Por que há tantos filmes sobre zumbis?
Devo confessar, por ser um cinéfilo convicto, que eu também já me perguntei por que se exibem tantos filmes sobre “mortos vivos”. A resposta estava na minha frente, apesar de eu nunca ter percebido: os zumbis existem. Estava dirigindo e de repente apareceu um… Sim, quase o atropelei. Era um jovem que atravessava a rua a pé com o farol vermelho. Estava ouvindo música com um par de fones de ouvidos gigantescos e estava entretido com o celular. Comecei então a perceber que o mundo está cheio de zumbis.
Estão lá, na rua, no ônibus, no metrô, nos carros, nos bares e, se bobear, podemos encontrá-los até nas salas de aula. Identificá-los é fácil, estão ouvindo música e brincando com o celular o dia todo, mandando mensagens, twittando, jogando, pesquisando na Internet. Não são tão feios e assustadores, mas se der a eles um carro ou uma bicicleta para dirigir, de repente se tornam tão perigosos, agressivos e mortíferos quanto os zumbis dos filmes.
Trata-se de uma espécie de psicose social, como já apontou algum psicanalista mais “antenado”. As pessoas vivem em estado de alucinose quase que o dia inteiro. Comunicar-se com elas é difícil. As respostas monossilábica, parecem quase com os grunhidos dos zumbis cinematográficos.
É como se fosse difícil encontrar um sujeito dentro desses corpos. O fenômeno pode ser ainda mais chamativo se começarmos a perceber o que o psicanalista francês Melman define como o zapping subjetivo. Assim como na TV podemos mudar de canal através do controle remoto, da mesma forma é fácil perceber que algumas pessoas “zapeiam”: dependendo da audiência, do noticiário do dia anterior, ou de um comentário aparecido na Internet. Sua opinião pode mudar completamente horas depois, sem que haja um nexo entre uma fala e outra. Talvez esse seja o desafio para o futuro da psicanálise, lidar com zumbis, corpos esvaziados de sua subjetividade, tão mutantes, agressivos como aqueles do cinema.