Ser consumista é uma doença?

Em que ponto Ser consumista deixa de ser tratado como um comportamento e passa a ser encarado como uma doença que afeta e prejudica o ser humano? (Da Redação)

É inegável que hoje há uma forte tendência ao consumismo. De certa forma, quem deixa de consumir deixa de existir. Pelo menos é o que parecem sugerir os apelos dos comerciais divulgados pela mídia. O consumo de determinados bens é sutilmente associado a uma questão de status. O sucesso das grifes se deve em grande parte ao adicional simbólico que o uso de um objeto de determinada marca parece acrescentar ao seu usuário. Tempo atrás, um amigo executivo comentava que, no início das reuniões de trabalho, é comum os colegas colocarem seus respectivos celulares na mesa em uma disfarçada disputa de status e de poder. O mesmo acontece com roupas, carros, canetas, aparelhos eletrônicos, viagens, etc.

Mas o que caracteriza o consumismo? O aspecto mais chamativo, do ponto de vista psíquico, é a compulsão, ou seja, a necessidade incontrolável de se apropriar de algo. Esta apropriação compulsiva é associada a uma sensação de ansiedade. É como se a pessoa sentisse uma sensação interna de vazio e de falta que precisa ser preenchida com algo.

O agir consumista tem um aspecto introjetivo, pois é como se permitisse pôr para dentro algum tipo de “alimento” simbólico, seja ele representado pela compra de um objeto ou por outro tipo de ação voltada para o consumo.

Por trás da ansiedade, se esconde algum tipo de angústia que é, de alguma forma, compensada ou amenizada pelo ato compulsivo que proporciona por algum tempo uma sensação de “saciedade”.

O problema contudo não é representado pela busca do prazer em si, mas pelo fato da psique “errar de alvo” na busca do objeto destinado a aliviar a sua angústia. O que ocorre neste caso é uma substituição, buscando prazer em algo efêmero que “substitui” o objeto não identificado, ou fora do alcance por um objeto mais facilmente disponível.

O “facilmente” fica por conta da proximidade física do objeto, o do fascínio que ele exerce momentaneamente, mas nem sempre isso ´quer dizer que o objeto escolhido para o consumo seja de fato adequado em termos econômicos ou do ponto de vista das reais necessidades da pessoa.

É sofrido, por exemplo, para os pais verem que seus filhos se sentem excluídos dos colegas na escola por causa de não possuírem determinados objetos: uma mochila, um celular ou um jogo de lápis da marca tal. A angústia real neste caso está ligada a um sentimento de inferioridade, de exclusão ou até de não existência. Neste caso, o objeto não identificado ou tido como não acessível seria a possibilidade de pertencer e de ser reconhecido com direito de existir no âmbito de um determinado grupo (neste caso a escola).

A doença, neste caso, está no distanciamento de si mesmo. O objeto de consumo é de fato, na maioria das vezes, adquirido a partir de um desejo induzido pela sociedade e não a partir de um desejo “real” que é apropriado como sendo algo que vem ao encontro de uma necessidade interna. O desejo apropriado pelo próprio self humaniza a relação com os objetos e com o mundo externo de forma geral. Quando esse elo é perdido o humano é capturado pelo objeto e coisificado. De senhor o ser humano se torna escravo.

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