Quando devemos ceder?

Vale a pena “ceder” para evitar conflitos? José Antônio da Cunha – Curitiba (PR)

 

Conflitos são inevitáveis: não há como fugir da desagradável sensação que a nossa presença está incomodando. Ao me relacionar com o mundo externo, o meu existir gera um impacto. Assim como no mundo físico dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço, algo parecido ocorre no mundo psíquico. A minha existência pode ser percebida pelo outro como sendo ameaçadora, invasiva, ou até agressiva. Naturalmente, isto depende da estrutura psíquica do outro e do contexto em que o encontro interpessoal acontece. Pessoas emocionalmente imaturas e psiquicamente mal constituídas tendem a sentir a presença do outro como uma ameaça e ficam desestabilizadas caso não consigam estabelecer algum tipo de controle sobre o outro.

 O mesmo ocorre em ambientes onde as relações são fortemente marcadas por vínculos institucionais hierarquizados (determinadas comunidades religiosas, uma empresa, um time, etc.) ou formais (um clube, um grupo marcado por rituais sociais fortemente padronizados, etc.).

Evidentemente, nem sempre é possível não ceder. Isto depende do nível de pressão que o ambiente exerce sobre nós, no momento de optar entre ceder e não ceder, mas também depende da constituição interna da pessoa.

Em ambientes que exigem a submissão hierárquica ou o cumprimento de determinados rituais formais, por exemplo, não há como fugir. Ou cedemos, ou deixamos de pertencer ao grupo, seja ele uma empresa, uma igreja, um time, um clube, uma ONG ou um partido político. Ceder, nesse caso, supõe entrar em uma relação que em psicanálise é chamada de “falso self”, ou seja uma relação que não possibilita ao sujeito estar presente por inteiro, manifestando os aspectos reais de sua personalidade (Self).

Existem contudo situações em que a “necessidade de ceder” é percebida como inevitável não por causa de uma real pressão externa e sim a partir de uma pressão interna do próprio psiquismo

Algumas pessoas diante da perspectiva de perder o afeto ou a estima do outro, preferem desistir de si, fazendo do “ceder” sua condição habitual. Cedem o tempo todo na vida profissional, pessoal e amorosa.

Quando o “ceder” se torna uma caracteristica da personalidade, o sofrimento psíquico se instala, fazendo com que a pessoa se sinta esvaziada, não existente, preterida, subjugada. Em algumas situações a síndrome do pânico se instala, denunciando a situação de “aprisionamento interno” que o psiquismo está vivendo.

Por outro lado, pessoas que não conseguem “ceder”, também podem estar psiquicamente doentes, demonstrando serem vítimas de um aprisionamento narcísico perigoso. Trata-se de pessoas que em qualquer situação demonstram insatisfação, incapazes de desistir de sua “voracidade” interna. Neste caso a dificuldade de ceder se apresenta como uma tentativa constante de manipular os outros e a  realidade a seu redor. Uma atitude tão perigosa quanto a desistência de si mesmo.

Mais uma vez não existem fórmulas simples. O psiquismo é um aparato complexo sempre em busca do equilíbrio perdido ou ameaçado.

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