O trauma do desamparo

Minha situação financeira é estável, mas tenho muito medo de perder tudo. O que isso significa?

O convívio com diferentes situações no processo de análise mostra que a relação com o dinheiro não é de fato sempre fácil. Neste sentido, tenho constatado duas situações opostas que geram um incômodo psíquico parecido.

No primeiro caso trata-se de pessoas provenientes de famílias ricas, que têm acesso a posses suficientes para garantir seu futuro, independentemente de seus esforços pessoais no campo profissional. Frequentemente, neste caso constata-se uma dificuldade para que à pessoa possa fruir sem problemas dos bens de sua família. Aliás, não é raro que ela busque empreender uma atividade própria, às vezes fora do campo de atuação da família, para provar o seu valor e se autorizar a usar o dinheiro que ganha.

 No outro caso, parecido com a situação descrita pelo nosso leitor, trata-se de pessoas bem sucedidas, que “subiram na vida”, com posses suficientes para garantir uma existência tranquila e que, no entanto, vivem um estado constante de angústia, por se sentirem ameaçadas pela perda da estabilidade conseguida a duras penas (em muitos casos trata-se de pessoas vindas de famílias pobres ou muito pobres).

Isto mostra que, apesar dos esforços legítimos ou ilegítimos para enriquecer, nem sempre fruir efetivamente da riqueza é simples. O dinheiro em si não garante a apropriação psíquica das posses.

O caso dos assim chamados “novos ricos” o comprova. Frequentemente seus esforços para obter a inserção no mundo dos ricos são forçados e desajeitados, marcados pelo exagero que leva ao mau gosto e por um tipo de arrogância que tem sua raiz na insegurança.

Mas por que uma boa conta bancária não garante a posse psíquica do dinheiro nela depositado? Evidentemente o processo psíquico de “apropriação” passa por uma significação que vai além do fato em si (o dinheiro real). Para poder fruir do dinheiro, o sujeito precisa de uma autorização interna que está ligada a fatores profundos, que poderíamos definir como uma autorização para existir, que nada tem a ver com posses.

, que poderíamos definir como uma autorização para existir, que nada tem a ver com posses.

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