Os donas da verdade

“Como lidar com pessoas que se acham as donas da verdade e, na verdade, não estão com a razão. Como mostrar o caminho a pessoas assim que, geralmente, já estão viciadas nesse jeito de agir?”

Os donos da verdade

Que existam os donos da verdade ninguém duvida. Os encontramos em qualquer lugar, podem ser colegas, vizinhos, amigos, parentes, etc. Todos eles foram agraciados pela ausência da dúvida. Nada mais difícil do que dissuadir um dono da verdade. Seus argumentos são inquestionáveis, mesmo porque o que poderia questioná-los é sistematicamente mantido fora do alcance de sua “visão” interna.

Mais uma vez podemos citar a frase de Winnicott, a realidade é objetivamente percebida (pelos nosso sentidos) e subjetivamente concebida (pela nossa mente). Não temos portanto pontos de vista certeiros e totalizantes e sim apenas “pontos para ver” aspectos da realidade. Aliás, para certas correntes da psicanálise, o “real” está definitivamente fora do nosso alcance, o que chamamos de realidade é apenas uma construção da nossa estrutura mental significante (que atribui significados). A própria ciência é cada vez mais questionada em sua capacidade de abranger o mundo real dos fenômenos (cf. o artigo A verdade, qual verdade?), pois ele é imensamente mais complexo do que a ciência pode aprisionar em suas fórmulas matemáticas.

Minhas colocações provavelmente vão despertar uma série de objeções… Mas como? Então não podemos ter certeza de nada? Isso é muito angustiante. Concordo. Não é por acaso que existem as feirinhas dos vendedores de “verdades”. É justamente para aplacar a nossa sede de que alguém nos diga qual é “a verdade”, a derradeira verdade, inquestionável. Quanto mais a sociedade vive ás voltas com a dúvida e as indefinições, mais feirinhas da verdade vamos encontrar.

O que caracteriza o nosso tempo é a incerteza, o fim das grandes narrativas (as visões sistematizadas do mundo), o enfraquecimento do princípio de autoridade. A contrapartida de tudo isso é uma busca maníaca pela “verdade (para fugir da depressão e da angústia do não saber), que nos é vendida em pílulas (às vezes pílulas medicamentosas), para aliviar a nossa angústia.

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