Ser firme sem ser grosso

Como ser firme sem ser grosso?

A pergunta já encerra em si uma armadilha. Parece de fato que ser firme, de alguma maneira, comporte em ser grosso. De fato muitas vezes é essa a sensação que determinadas pessoas sentem quando precisam se posicionar sem rodeios.

Não é raro que o brasileiro, ao viajar ao exterior e se deparar com outras culturas, perceba a maneira de interagir de outros povos como sendo seca, grosseira e pouco educada por ser objetiva e sem rodeios. Evidentemente os que moram nesses países não sentem as coisas do mesmo jeito, pois para eles essa é a forma habitual de se relacionar.

 Existe uma questão cultural por trás da maneira de nos posicionar diante do outro? Sem dúvida, mas este não é o motivo mais forte que torna difícil ser firme. Existe um motivo psicológico. Podemos de fato ser firmes e objetivos sem ser grossos, mesmo respeitando os padrões culturais do nosso país. Aliás, quanto mais natural for para a pessoa se posicionar com firmeza, menos rude soará sua resposta, pois nela não há agressividade e provavelmente sua clareza poderá até despertar inveja em quem acha difícil ser firme e claro.

Diante da dificuldade de assumir uma posição e se autorizar para manifestá-la, existem formas diferentes de reagir para amenizar a ansiedade e a angústia. Uma delas é a tentativa de sedução. Seduzir pode parecer o caminho mais fácil para conseguir o que se deseja, quando não se tem a autorização interna para pedi-lo diretamente. Obviamente a sedução supõe algum tipo de submissão, preço que quem não tem coragem de se posicionar com clareza paga para conseguir sustentar sua posição.

A outra forma é o recurso à agressividade que, por provir de um núcleo ansioso e angustiado do psiquismo, emerge com força, surpreendendo o outro e sendo geralmente interpretada como grosseria. Trata-se na realidade de uma defesa, diante da sensação de ser invadido pelo outro. Obviamente, há ainda a possibilidade de não se posicionar, deixando que o outro tome conta da cena, “impondo” mais ou menos declaradamente a sua vontade. Neste caso o preço que se paga é a sensação de não existência diante do outro.

Mais uma vez, devemos constatar que a maneira como o ser humano foi recebido no mundo influencia a forma como ele “estará” no mundo mais tarde. A autorização para existir e, antes disso, a autorização para “ser” é espelhada no rosto da mãe e no seu comportamento. A maneira como ela interage com o bebê, como o manuseia ao cuidar dele, como o segura no colo e o amamenta, são determinantes para o sofisticado processo psicológico que leva à constituição de um Eu saudável (Self). Neste sentido, a mãe não precisa ser perfeita, basta que seja suficientemente boa, pois se trata de um processo natural inscrito no instinto materno. Infelizmente mudanças importantes na vida familiar e na forma como o casal lida com as transformações sociais e o ambiente socioeconômico, tendem a tornar esse processo mais complicado.

O bebê nasce com um potencial adequado para que ele possa desenvolver um Eu saudável e possa se autorizar a existir. Este potencial contudo precisa ser desenvolvido, sobretudo nos primeiros meses de vida, no contato com o ambiente que o cuida. Disto dependerá mais tarde a sua capacidade de se posicionar com firmeza diante do mundo e de interagir com o outro.

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