Quem já viveu uma paixão sabe o quanto esse sentimento é intenso, a ponto de abalar por completo a vida de uma pessoa. Talvez esta seja a característica mais evidente, que permite detectar o apaixonamento à primeira vista. Os sintomas são característicos: a pessoa amada não sai da cabeça de quem está apaixonado. Nela ou nele são encontradas todas as virtudes que alguém poderia esperar de uma mulher ou de um homem. Defeitos? Eles são tão insignificantes que nem vale a pena aponta-los, pois quem o fizer sempre será desmentido com raiva, mesmo que seja uma pessoa de absoluta confiança.
Às vezes a projeção é tão intensa que até pode assustar quem se sente objeto de uma paixonite aguda. A dúvida logo se instala: será que mereço tamanho apego, será que eu sou mesmo tudo isso?
Brincando com as palavras poderíamos dizer que, de certa forma, quem se apaixona não ama a pessoa por quem diz estar apaixonado, e sim um ser imaginário que, em grande parte, é uma criação de sua fantasia: uma idealização.
A paixão é marcada por tamanha intensidade emocional que Freud a assimilava aos processos neuróticos em que predominam as fantasias inconscientes. Nada é mais real para o nosso psiquismo do que uma fantasia, pois ela aflora com toda a carga da energia psíquica do nosso mundo interno.
Por outro lado, como todo objeto idealizado, a paixão também acaba se transformando em uma experiência que nos persegue, com sua carga de angústia e de ansiedade. Com extrema facilidade o ser adorado pode se transformar em um ser odiado, caso não se dobre às projeções da fantasia do amante.
O amor é um sentimento mais calmo e prazeroso, embora não seja marcado pela intensidade emocional da paixão. O amor se manifesta como um vínculo emocional profundo que nos une ao ser amado, permitindo acolhê-lo na sua inteireza, com seus lados positivos e negativos. Isto não impede que, às vezes possamos ficar incomodados com suas ações ou palavras, mas o vínculo prevalece e os aspectos negativos são “integrados” (e não negados como no caso da paixão), permitindo que a relação não se rompa. Com o tempo, os aspectos negativos do outro podem ser vistos e apontados numa atitude de complacência e simpatia que envolve aceitação e incentivo á superação.
O amor permite e supõe o compartilhamento de aspectos comuns da realidade. Isto não quer dizer que o amor suponha o compartilhamento de todos os espaços pessoais, pois isso realmente seria impossível, mas pelo menos de alguns.
A plenitude experimentada no compartilhamento desses espaços de realidade compartilhada faz com que não seja necessário impor ao outro as próprias formas (maneiras de ser), fazendo da vida a dois uma prisão domiciliar. Ao contrário o crescimento e o desenvolvimento pessoal e profissional do outro são desejados e incentivados, para que ele possa existir a partir dele mesmo.
Apesar de envolver um sentimento de união profunda, o amor possibilita também a separação psíquica do outro, permitindo a experiência do “estar só”, fundamental para que o vínculo não se torne opressivo e aprisionante para o outro. Nada pior do que sentir que “somos tudo” para o outro. Ser tudo para alguém é uma responsabilidade grande demais, pois ninguém pode ocupar esse lugar imaginário.