Pais e avós; como evitar conflitos?

Sou casado e pai de três filhos pequenos. Junto conosco mora o pai da minha esposa. Ele tem um ótimo relacionamento com os netos. Contudo, tenho andado preocupado, pois acho que ele tem interferido um pouco na educação que pretendo dar para meus filhos. Quando acho necessário repreendê-los, logo depois meu sogro os agrada; quando os proíbo de comer algo que acho que não fará bem a eles, em seguida vejo o avô fazendo a vontade deles. Acredito que esse tipo de comportamento não seja saudável para meus filhos. Meu sogro foi muito rígido com os filhos dele, mas hoje não faz o mesmo com os netos. O que devo fazer para resolver isso? — Pai angustiado do interior do Paraná

O papel dos avós varia de acordo com a situação de cada família e com a maneira de ser do ponto de vista psíquico de cada um deles. Não é raro que o avô ou a avó sejam lembrados como uma presença importante na vida de uma pessoa. Às vezes eles representam a tábua de salvação para aquelas crianças que não encontram nos pais um apoio afetivo suficientemente bom. Em outros casos, mesmo os pais sendo bons, os avós são chamados a substituí-los quando, por causa do trabalho ou de outras situações, não podem estar presentes junto aos filhos. Há ainda a situação em que o avô ou a avó vivem na casa dos filhos, junto com os netos. A presença de dois pólos afetivos na vida da criança (os pais e os avós), pode leva-la a fazer algum tipo de chantagem emocional, para realizar seus desejos de forma onipotente. Os avós portanto podem tender a ser mais permissivos até por competir de forma inconsciente com os pais pelo afeto dos netos. Esta tendência pode ser ainda mais forte quando os avós, em sua condição de idosos, se sentem “esvaziados” por se considerarem um peso para os filhos e inúteis para a sociedade por não serem mais “produtivos”. Além disso, às vezes (como provavelmente ocorre no caso mencionado em sua carta), os avós se sentem culpados por achar que não criaram seus filhos de forma adequada. Mais um motivo para não impor limites aos netos. Mesmo querendo é portanto difícil para os avós assumir o papel dos pais. Seu papel, no entanto é importante, pois eles garantem à criança uma experiência importantíssima do ponto de vista psíquico, o contato com suas raízes. Ao contar seus causos, suas histórias, ao compartilhar com elas suas “formas de ser”, suas experiências e seu mundo eles estabelecem um elo entre o passado e o presente, que lança a criança para o seu próprio futuro. Sabendo de onde vem ela pode escolher para onde ir.

No que diz respeito à educação dos netos, os avós devem evitar toda forma de desautorização dos pais. Quando estes tentam educar os filhos impondo limites os avós não devem interferir, ao contrário devem apóia-los. Se eles acharem que os filhos não agiram da forma certa podem conversar com eles e eventualmente questioná-los, mas nunca na presença dos netos. Se a autoridade dos pais for questionada e “atacada” a criança poderá tender a desenvolver formas de manipulação onipotente da realidade, que caracterizam um certo desvio psíquico na forma como elas passarão a se relacionar com o mundo. A tendência de burlar a lei, a dificuldade de lidar com a autoridade e com os limites que a vida impõe, inclusive a tendência de fazer dívidas e de não saber lidar com o dinheiro podem ter suas origens nesse tipo de atitudes erradas na educação das crianças. Algo que parece muito inocente e sem conseqüências na hora de agir pode de fato ter conseqüências inesperadas mais tarde.

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