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Os refugiados: pessoas reais, problema real

No plano coletivo, como no plano pessoal, a mente humana tem certa dificuldade para entender que as representações da realidade são apenas representações e não a realidade em si. No caso de um problema tão complexo como aquele dos refugiados, que está ganhando cada vez mais destaque nos noticiários nacionais e internacionais, é ainda mais difícil saber o que de fato pode ser uma representação aproximada do Real,

O refugiado com o qual o europeu entra em contato é aquele que vê na rua, vendendo bugigangas ou vivendo de artifícios, formando pequenos grupos que à noite se reúnem em algum ponto da cidade para conversar em seu idioma, na tentativa de manter o contato com suas raízes. Quanto ao resto, o migrante é aquele que é representado na mídia: em geral um “problema” para a estabilidade social e cultural de uma Europa que lutou por anos para se reconstruir das ruinas da guerra e alcançar o bem-estar e o equilíbrio social. Mas frequentemente ele é também uma “ameaça” para a estabilidade econômica, social e para a identidade cultural do país no qual ele se instala. Violência, exploração, prostituição, comércio das drogas, máfias importadas e a própria ameaça do terrorismo e do radicalismo islâmico são alguns dos aspectos mais alarmantes da presença desses corpos estranhos no seio da sociedade.

Contudo, recentemente, outro aspecto do Real se abriu caminho. Algumas imagens divulgadas pela mídia aterrorizaram o mundo, despertando indignação e compaixão. O menino morto na praia, o pai sendo espancado na tentativa de proteger seu filho, o caminhão cheio de corpos achado na Áustria. Outro rosto da realidade se apresenta, outra representação até então reprimida. O imigrante é uma pessoa real, um fugitivo, que deixa o seu país em condições de extrema precariedade e desespero, tentando escapar de algum tipo de violência da qual foi vítima, seja ela a extrema pobreza, a guerra, ou ainda a intolerância de grupos dispostos a massacrar os que não pensam como eles. Este também e um rosto do imigrante: ele é um pai desesperado, é uma criança inocente, é uma mulher indefesa, é um velho sem forças.

A mente humana se angustia diante da ambiguidade e dos contrastes que as diferentes representações trazem de forma antagônica. Ela precisa escolher, e geralmente o faz absolutizando esta ou aquela representação, para aliviar a angústia. O discurso tende a se radicalizar, a se tornar intolerante; ou então a idealizar uma realidade inexistente. Estes são os dois monstros, Cila e Caribde, que assolam o estreito pelo qual navega nosso pensamento.

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