Padrões de comportamento

É verdade que somos impulsionados a nos enquadrar em padrões ditos como corretos ou fora do normal, de acordo com o que a sociedade quer?

O convívio social sempre exigiu do indivíduo uma conflitante adaptação a padrões de comportamento pré-estabelecidos, ditados pela tradição, o contexto cultural, as leis, as normas éticas e o código moral, geralmente ligado a uma religião. Em “O mal-estar da civilização” Freud descreve com clareza esse processo e suas consequências para o psiquismo.

Os “padrões” de comportamento são apropriados pela psique como injunções que, uma vez introjetadas, contribuem, embora de forma não exclusiva, para constituir aquilo que Freud chamava de “ideal do Eu”. Trata-se de uma referência inconsciente que Freud relaciona à formação de uma instância psíquica inconsciente que ele chamou de Supereu, ou seja, uma espécie de inspetor interno que supervisiona o Eu.

Contudo, o Supereu não é determinado unicamente por fatores externos de caráter ”normativo”, ele responde também a apelos vindos do mundo interno que determinam o “Eu ideal”, uma autoimagem inconsciente à qual o Eu se reporta de forma adaptativa, uma espécie de padrão interno.

 Os vínculos iniciais que a psique estabelece são marcados pela necessidade de sobrevivência do bebê. Tais vínculos também estabelecem um “padrão” de sobrevivência afetiva, dependendo da forma como o bebê é recebido pelo mundo externo, com o qual interage. Esta interação é singular, pois, incialmente, o bebê experimenta um estado simbiótico com o ambiente, fazendo com que ele não se perceba como um Eu separado do mundo externo.

 As complexas interações iniciais estabelecem padrões de relacionamento psíquico destinados a interferir profundamente na vida futura do sujeito, podendo gerar uma estrutura egóica saudável ou falhada e inconsistente. Neste último caso, a psique pode experimentar uma submissão compulsiva ao mundo externo, resultando na estrutura chamada por Winnicott de “falso Eu”, abrindo caminho para sensações de não existência e para a percepção de si mesmo como fraude.

Nos casos mais graves pode ocorrer o surgimento de estados depressivos, isto é, estados de impotência diante dos padrões exigidos pelo ambiente e pelo mundo interno do sujeito, ou estados melancólicos, marcados pela incapacidade de investir eroticamente qualquer tipo de objeto, sempre percebido como insuficiente e descartável. A reação mais radical leva o psiquismo a viver uma cisão interna, ou seja, uma defesa de caráter psicótico que resulta na rejeição do mundo externo.

Se isso é o que acontece no contato do indivíduo com o mundo externo, hoje temos um fator complicador. Trata-se de novas injunções que visam moldar padrões de comportamento em função das necessidades da sociedade de consumo. Uma forte pressão midiática “determina” formas de comportamento não mais baseadas no que é certo e errado em termos legais, morais ou éticos e sim no que é esperado pelos padrões do sucesso e do consumo, visando a aprovação (likes) dos que assistem ao nosso show (a vida como espetáculo) nas redes sócias e nos ambientes sociais e de trabalho. São as novas instâncias superegóicas que se acrescentam às primeiras, gerando conflitos internos consideráveis.

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