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Não me sinto amado…

Não me sinto amado pelas pessoas da minha família. Às vezes sinto falta de atenção, carinho ou até de uma conversa. Já pensei em ir morar sozinho. Seria uma boa decisão?

Todo ser humano tem uma expectativa natural de se sentir amado. O fato de não sentir esse amor da forma como ele é idealizado pelo nosso mundo interno, não quer dizer necessariamente que esse amor não exista. Estamos contudo diante de um paradoxo.

Por um lado, existe um sentimento angustiante expressado nas palavras: “Não me sinto amado”. Este sentimento é inexorável e absolutamente real para quem o sente.

 Por outro lado, pode existir uma dúvida, reforçada pela maneira como os outros negam nossos sentimentos: “Será que não estou exagerando? Tenho o direito de sentir o que eu sinto? O que eu sinto é real?”. Estas perguntas espelham um sentimento de culpa, reforçado pela raiva por não sentir que os próprios sentimentos fazem sentido para os outros.

É muito provável que quem experimenta a sensação de não se sentir amado tenha de fato vivido situações inicias, quando bebê, em que faltou a experiência de se sentir investido pelo desejo da mãe, pelo olhar apaixonado dela. Quando esta experiência inicial falha, o Eu do bebê se constitui de forma inadequada, é frágil.

É essa fragilidade que inviabiliza a possibilidade do sujeito “habitar” seus sentimentos e de autorizá-los. O sentimento de fato não pode ser sujeito a julgamentos, ele é um produto do mundo interno que foge ao controle da nossa consciência. Se existe, é real e autorizado, pois houve em algum momento algo que o provocou. O que nós podemos fazer é lidar com nossos sentimentos, tomando nossas decisões e controlando nossas reações.

Deixar a família pode ser uma decisão viável, desde que seja percebida como uma forma de se “distanciar” em busca da autonomia emocional e não apenas como uma forma de “punir” os pais ou a si próprio, ou uma forma infantil de chamar a atenção. A sensação de “não ser amado” de fato vai se confirmar e se repetir nas mais diversas situações da vida, até que o psiquismo consiga encontrar sua autonomia emocional e “se acolher”, parando de se autopunir.

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