O que posso fazer enquanto não consigo um emprego? (…) Aceito ganhar menos, mas as empresas falam que sou qualificada demais, em outras não tenho experiência. (…) Naquilo que tenho experiência não tem vaga disponível. Estou me sentindo deprimida e com dividas que não vejo quando vou poder quitar. Como posso reverte essa situação? Tatiana
Apesar das estatísticas oficiais que apontam para índices de desemprego menores do que de outros países, de fato quem está à procura de um emprego qualificado pode enfrentar uma situação para a qual os números oficiais não trazem nenhum alivio.
O atual mercado de trabalho não é fácil. Se o candidato já estava empregado com um bom salário, menos ainda. Se for um jovem em busca do primeiro emprego que lhe dê acesso a uma carreira promissora, o processo de seleção é muito exigente e o salário oferecido geralmente baixo se comparado com o nível exigido do candidato, com o custo de vida e com o investimento que ele teve que fazer para poder ser selecionado.
No artigo Desemprego causa depressão, expliquei com maior profundidade os fenômenos psíquicos que acompanham a situação do desempregado. Aqui quero apenas frisar dois aspectos que não foram suficientemente desenvolvidos no artigo anterior: trata-se da autoimagem e da autoestima.
A autoimagem é para a psicanálise a imagem interna que nós temos de nós mesmos. Esta imagem concentra os elementos narcísicos associados a uma imagem ideal de nós mesmos construída no nosso mundo interno. O psiquismo precisa poder investir esta imagem positivamente, erotizando-a. É a partir desta erotização que a energia psíquica flui e nos move em direção ao mundo externo, evitando a paralisia psíquica.
A autoestima pode ser baixa ou alta dependendo do grau dessa erotização da autoimagem. Evidentemente, uma baixa autoestima repercute na forma como nos apresentamos aos outros e acaba denunciando o pouco investimento que o nosso mundo interno está fazendo no Eu, deixando transparecer uma autoimagem narcísica enfraquecida. Tudo isso se traduz em falta de energia e criatividade.
A percepção de nós mesmos, além de ser afetada pela forma como fomos recebidos no mundo, depende também de todo o processo de construção da nossa identidade, que hoje passa, para muitos, através dos fetiches do consumo. Evidentemente sem emprego o grau de inserção no cortejo dos bem-sucedidos é substancialmente reduzido e, com isso, também a autoimagem, ou melhor nesse caso, a imagem que o outro nos atribui e que acaba se sobrepondo, condicionando a nossa autoimagem.