O choro é uma forma normal de externar nossas emoções e portanto não tem nada de errado em chorar. Entretanto, existem situações e contextos em que o choro gera constrangimento. Se quem chora for homem então, pior ainda, pois “homem que é homem não chora”. Trata-se porém de imposições ligadas a exigências ditadas pelo contexto cultural, que devem ser tomadas pelo que valem. São formalidades. Às vezes, devemos nos submeter a elas por causa do convívio social, mas não podemos deixar de ser nós mesmos o tempo todo, entregando-nos a uma falsa existência. Expressar nossos sentimentos faz bem e às vezes é necessário, mesmo que isso possa gerar constrangimento. Isto naturalmente vale tanto para as mulheres quanto para os homens: como diz a música “Homens também choram”.
Em sua carta, o motivo do choro parece ser uma reação emocional ligada à frustração dos seus desejos, ou a situações que a irritam. Talvez, neste caso, o que a deixa desconfortável não seja o choro em si, mas o motivo, que é percebido como um sinal de “fraqueza” ou talvez até de infantilidade. O que você chama de “fraqueza” é uma dificuldade de “suportar” a realidade, que muitas vezes se apresenta como frustrante e aversiva, pois resiste ao nosso desejo.
Nosso funcionamento mental oscila entre duas posições, ligadas a dois núcleos, o núcleo psicótico e o núcleo neurótico. Poderíamos imaginá-los como dois pólos de atração, que nos fazem oscilar entre o nosso mundo interno e o mundo externo. Quando prevalece o núcleo psicótico, ficamos à mercê do nosso mundo interno, aprisionados em nós mesmos, tomados por nossas fantasias. Nesta situação psíquica estamos expostos a nossas idealizações ou às nossas paranóias. Os processos projetivos se tornam particularmente intensos. É como se o mundo deixasse de existir, do ponto de vista emocional, pois estamos totalmente voltados para dentro.
Por outro lado, quando o núcleo neurótico é ativado, nos sentimos pressionados pelas exigências da realidade. As imposições ligadas aos valores impostos pela tradição cultural ou religiosa à qual pertencemos nos obrigam a abrir mão dos nossos desejos, e nos obrigam a um doloroso processo de adaptação à realidade,que pode nos levar a uma sensação de esvaziamento interno, que nos faz sentir falsos e irreais, pois nos percebemos à mercê do desejo dos outros.
No seu caso, quando a realidade externa se apresenta com suas exigências, parece que prevalecem os núcleos psicóticos, fazendo com que o mundo externo seja sentido como invasivo e persecutório. A reação é de irritação e de frustração. Logo porém, o núcleo neurótico entra em jogo e a chama para a realidade, fazendo-a sentir culpada, inadequada, infantil, “fraca”.
Contrariamente ao que muitos pensam, tanto os núcleos psicóticos como os neuróticos são necessários para que o psiquismo encontre seu equilíbrio entre as exigências do mundo interno e aquelas do mundo externo.