Foto gentilmente cedida por Frankie Freitas
Como interpretar as manifestaes ocorridas em várias cidades brasileiras?
Manifestantes em busca de uma causa
Nos anos sessenta os jovens protagonizaram uma revolução, que expressava um mal-estar difuso contra o “Sistema”, identificado como fonte de opressão e de hipocrisia. Hoje os jovens tomaram como bandeira o aumento das passagens dos ônibus, mas é evidente que o mal-estar vai além. Se nos anos sessenta a juventude conseguia definir com um discurso mais estruturado qual era a sua bandeira, hoje os jovens são manifestantes em busca de uma causa.
O Governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, fez uma declaração tentando desmoralizar os protestos dizendo que se tratava de atos “políticos”. É surpreendente que alguém possa questionar que uma manifestação seja de fato um ato “político”, como se a única política possível fosse a “oficial”, aquela dos políticos, supostamente bem comportada e civilizada. Infelizmente a política dos políticos de carteirinha é tão violenta e agressiva como aquela dos manifestantes. Talvez seja justamente contra isso que os manifestantes, sem saber, manifestam.
As cenas que vêm se repetindo em várias cidades brasileiras e em outras partes do mundo não são muito diferentes. Os mal-estares declarados podem ser os mais variados, mas no fundo, todos protestam contra uma política que há muito tempo deixou de se preocupar com a “pólis” (a cidade, o bem comum), e se tornou um antro de conchavos destinados unicamente a favorecer interesses particulares e manobras para manter o solidificar o poder deste ou daquele grupo.
Talvez quem manifesta, sem saber, o faça contra a sensação de ser manipulado por um poder cego, que ignora os interesses do bem comum (a pólis), transmitindo uma sensação de impotência e de opressão.
Uma das descobertas mais polêmicas de Freud foi a tese que o ser humano é conduzido não apenas pelo instinto de vida, mas também pelo instinto de morte. Todos: manifestantes, polícia e políticos estão à mercê dessa polaridade. Diante disso é difícil definir quem são as vítimas e quem são os carrascos. No fundo os próprios policiais não sabem exatamente o que estão defendendo, pois a pólis que supostamente defendem das pichações e dos quebra-quebras, já está toda pichada e quebrada pela falta de ética dos políticos.
Concordo com ArnaldoJabor de que haveria causas mais importantes a serem invocadas pelos manifestantes, mas em tempos em que o significante prevalece sobre o significado, as pessoas manifestam, sem saber exatamente por que, conduzidos pela simples estética do protesto.