Jovens, álcool e drogas

Para adolescentes e jovens mergulhar no álcool e drogas é sinal de querer parecer forte perante os amigos?

O fenômeno do uso de álcool, drogas e estimulantes é cada vez mais preocupante e atinge tanto os grandes centros urbanos como as pequenas cidades do interior. Acidentes de trânsito frequentemente mortais, violência e abusos de todo tipo são os desastrosos efeitos visíveis desse fenômeno. Como os noticiários apontam, os fins de semana em vez de ser um momento de descanso e lazer, estão se tornando o cenário de tragédias anunciadas.

A pergunta questiona se essas seriam manifestações de um desejo de potência que visa fazer com que o(a) jovem se sinta “adequado(a)” perante a roda de amigos que ele(a) frequenta. A pergunta que imediatamente surge como corolário da primeira é “por que” os jovens precisam se sentir potentes dessa maneira. Que tipo de ‘”esvaziamento” está por trás dessa sensação de impotência que precisa ser combatida com a sensação oposta de onipotência proporcionada artificialmente por álcool, estimulantes e drogas?

 Como já apontei em outros artigos, existe uma “insegurança” que é própria da fase juvenil. O jovem se afastou do mundo encantado da infância, em que outros resolviam seus problemas e o apoiavam para encarar seus desafios e se vê de repente projetado no mundo dos adultos, convocado a agir como tal.

O mundo que se apresenta aos seus olhos não é certamente amigável. Na maioria das vezes, ele(a) se sente apenas mais um “objeto” de consumo diante de um mercado de trabalho cada vez mais feroz e exigente. O seu futuro é ameaçado caso não consiga um mínimo de “diferenciais” que garantam o seu sucesso: aprender mais um idioma, fazer uma faculdade, cursar uma pós-graduação, conseguir ganhar bastante dinheiro, vestir roupas de marca, comprar um carro (em muitos casos com o dinheiro que não é seu), conseguir um corpo perfeito, etc.

O “mercado” das relações amorosas não é menos exigente, os vínculos são cada vez mais precários e descartáveis, transmitindo uma sensação de solidão e de falta de sentido. O jovem convive com uma constante necessidade de competir, para não ser expulso do cortejo dos bem-sucedidos, sem contudo se sentir realmente preenchido por essa competição.

A droga e o álcool passam a ser o outro com o qual muitos jovens se relacionam, tentando fugir dessa sensação angustiante de solidão e de falta de sentido. Sem contar que os paraísos artificiais viciam, realimentando com cada vez mais força o vínculo do usuário com o consumo do substituto do prazer.

Embora a sensação do jovem que se droga ou bebe seja de onipotência, na realidade ela esconde um terrível experiência de impotência e um profundo esvaziamento do Eu, que, ao reaparecer nos períodos de abstinência, volta a alimentar de forma poderosa a necessidade de “fuga” para o consumo de produtos que ofereçam acesso aos paraísos artificiais.

Infelizmente, em sintonia com esse fenômeno, há também uma oferta crescente de paraísos oferecidos através do, não menos compulsivo, uso de “produtos” religiosos. Determinadas abordagens da religião que garantem sucesso e bem-estar material e moral em troca do cumprimento de determinadas exigências que estabelecem um vínculo de “subserviência” ao grupo religioso, naõ deixam de fazer de Deus mais um produto de consumo. O tratamento de pessoas vítimas desse tipo de adição não é menos doloroso e difícil.

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