Um amigo tem serias dificuldades de sair de casa: ele evita ir para baladas, festas, barzinhos, aniversários. Não é preocupante para um jovem de 25 anos? Trata-se de um aspecto de personalidade (Caseiro), ou é alguma síndrome, tipo síndrome do pânico? Maria Stela Araújo, Aparecida (SP)
Em primeiro lugar quero me desculpar pois percebo que às vezes os artigos frustram o desejo do leitor que, ao fazer uma pergunta, gostaria de alguma orientação precisa. Este espaço não permite nenhum tipo de diagnóstico à distância. Seria absolutamente inadequado improvisar um diagnóstico com as informações que uma pergunta oferece e sem o contato pessoal com quem escreve. O que podemos arriscar é identificar de forma geral para que tipo de problema a pergunta aponta. Como já vimos em outros casos, nem sempre isto nos levará em uma única direção, mas creio que possa ser de alguma ajuda para ajudar os leitores a discriminar melhor as situações nas quais estão envolvidos.
Gostaria em primeiro lugar de apontar um fato bastante comum nos dias de hoje. Os imperativos sociais remetem a comportamentos tidos como “normais”, mas que não são necessariamente normais e menos ainda necessários. Um jovem pode não gostar de baladas, festas, aniversários e barzinhos não porque não gosta de encontrar os amigos e sim porque justamente o que essas situações menos proporcionam é um encontro com o outro.
Para quem não bebe, ficar rodeado de pessoas bêbadas (ou drogadas) que começam a não falar coisa com coisa pode ser bastante cansativo e desmotivador. Neste caso preferir ficar em casa pode ser considerado bastante “normal”, apesar dos amigos considerar o comportamento inadequado e pouco “social”.
Feita essa premissa, é claro que quando uma pessoa se fecha na sua casa e recusa qualquer tipo de contato social, estamos diante de uma síndrome, que pode adquirir contornos bastante preocupantes. Em alguns casos, a clínica mostra formas de retraimento realmente radicais que levam a pessoa a morar isolada no meio do mato, em apartamentos inóspitos, às vezes rodeadas de um excesso de animais domésticos, buscando recursos para manter e proteger seu isolamento.
O que indica que estamos diante de um caso patológico e não apenas de uma característica pessoal de maior introversão? Um fator importante é observarmos o teor psíquico geral. Quando alguém sofre de alguma patologia, esta inibe o seu interesse pela vida, sua criatividade, sua vontade de se comunicar com os outros, dificulta o trabalho e o estudo e, frequentemente, inibe a vida amorosa. Além do isolamento, a patologia traz consigo também algum tipo de paralisação psíquica, deixando a pessoa “congelada” em rotinas bastante esvaziadas, sem nenhum ou com poucos investimentos afetivos nas coisas e nas pessoas.
Do ponto de vista clínico, isso pode apontar para diagnósticos bastante complexos que vão desde casos mais graves de psicose maníaco-depressivas, bipolaridade, melancolia, depressão (de origem estrutural ou traumática), a casos de síndrome de pânico, que podem ser identificados como formas modernas de histeria, ou ainda a situações que caracterizam transtornos de neurose obsessiva (TOC).
Em todos esses caos, somente a terapia permitirá identificar de que se trata. Vale a pena contudo frisar que em casos mais graves será necessário, além da terapia, recorrer a um psiquiatra para tratamento medicamentoso.