Qual é o segredo para permanecer jovens, apesar da idade? Se no passado o sonho da eterna juventude encontrava o seu eco nos relatos que falavam sobre a existência, em algum lugar recôndito, da mítica fonte da juventude, hoje preferimos acreditar que o egredo está nos cuidados com o corpo, com a mente e com o espírito. No imaginário do homem contemporâneo o SPA parece ter substituído a fonte da juventude.
Na realidade, acredito que corpo-mente-espírito estejam intimamente ligados. Como foi explicado em outras ocasiões, a “normalidade saudável” supõe que a mente consiga se equilibrar entre duas forças opostas, uma que a leva ao fechamento sobre si mesma e outra que a leva para fora de si, em direção ao mundo externo. A partir dessa tensão bipolar (de certa forma todos somos “bipolares”) é gerada a energia vital que informa a nossa atividade psíquica. Simplificando bastante a complexidade desse processo, podemos dizer que a vida psíquica saudável supõe o equilíbrio entre os diferentes núcleos do nosso psiquismo, entre o “dentro” e o “fora”.
Manter-se jovens, do ponto de vista psíquico, supõe saber lidar tanto com o nosso mundo interno como com o mundo externo. Ficar à mercê de um ou de outro provoca um embotamento da energia psíquica que não é saudável, podendo nos levar ao fechamento narcísico ou a uma submissão às expectativas do mundo externo, que nos leva à paralização vital típica das diferentes formas de neurose.
Vou tentar exemplificar isso tudo de forma mais simples. Vamos pensar no momento em que acordamos. A nossa energia mental, até então empenhada nos processos oníricos (na produção dos sonhos), ao abrirmos os olhos, recebe o impacto do mundo externo. A “realidade” se impõe e é “processada” pela nossa mente a partir dos estímulos sensoriais externos, que, imediatamente, são relacionados a memórias internas. A realidade não é apenas o que se apresenta no exato momento em que acordamos, mas ela já contém códigos que nos remetem ao nosso mundo interno e a suas lembranças, que fazem com que ela seja concebida subjetivamente.
No exato momento do acordar, nossa mente opta entre a submissão às exigências do mundo externo (trabalho, estudo, filhos, marido, pais, rotinas diárias, etc.) que levam alguns a se levantar correndo, disparando no organismo descargas hormonais para reagir ao desejo de permanecer na cama dormindo, ou ao aprisionamento no mundo interno, onde prevalecem o devaneio e o fantasiar, uma espécie de redemoinho psíquico que nos paralisa na cama e nos impede levantar. Em ambos os casos, prevalece a angústia e a ansiedade por não estarmos vivos e sim á mercê de forças que nos arrebatam para longe de nós mesmos, nas profundezas escuras do nosso inconsciente, ou no turbilhão de estímulos sensoriais do mundo externo.
É óbvio que nessas condições tanto o corpo como o espírito sofrem. Não serão simples “práticas externas” (a academia, os cuidados com o corpo, a alimentação, a caminhada, etc.) que conseguirão estabelecer o equilíbrio. Embora elas possam ajudar, o equilíbrio deve poder ser construído internamente.
Ao acordarmos podemos estabelecer uma ponte entre o nosso mundo onírico, o nosso mundo interno e o nosso dia. O que aquele sonho queria nos dizer? Talvez seja difícil interpretá-lo, mas é importante não desprezar os sentimentos que ele nos traz. O que o mundo externo nos pede? O que tudo isso tem a ver com o nosso mundo interno, com os “nossos” sonhos? Faz algum sentido? Trata-se de um posicionamento diante da vida, que é feito a partir de um ponto de equilíbrio e integração que tudo organiza: o nosso Eu profundo. Na sintonia com o nosso Self está o segredo para a eterna (enquanto dura) juventude.