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Entrevista sobre o livro Perguntas a um psicanalista

Perguntas a um psicanalista é lançamento de Roberto Girola

Entrevista a Eduardo Gois

O livro Perguntas a um psicanalista, escrito pelo colunista do Vida em Família, o psicanalista Roberto Girola, é fruto do diálogo mantido há mais de sete anos com os leitores do JS. Os assuntos abordados são os mais variados e envolvem temas relacionados à vida cotidiana ou, em alguns casos, à complexidade do viver contemporâneo.

A ideia foi reunir os artigos em um único livro e surgiu a partir dos pedidos de amigos, familiares e pacientes do psicanalista. Com linguagem cativante e acessível, Roberto Girola responde às perguntas cheio de atenção e cuidado pelo humano. Assim, as pessoas podem refletir sobre o que já está escrito dentro de cada uma delas pela própria vida, e podem pensar em como continuar a escrever o texto de sua existência. Um livro de leitura fácil, mas extremamente intrigante, que faz pensar, que provoca. Um livro para muitas horas e muitas leituras.

Você pode adquirir o livro impresso ou digital na Central de Vendas da Editora Idéias & Letras, pelo telefone 0800 16 00 04 ou pelo site www.ideiaseletras.com.br

JS – Como é a experiência de escrever sobre os anseios das pessoas e tirar as dúvidas dos leitores?

Roberto Girola – O Meu objetivo é ajudar o leitor a pensar. Uma tarefa um tanto árdua nos dias de hoje, em que somos atropelados por uma rotina diária e estafante. Existe certo preconceito nos meios psicanalíticos sobre a possibilidade de se falar adequadamente da experiência do inconsciente fora do setting analítico — o consultório. Não concordo com essa opinião.

O inconsciente está presente o tempo todo em nossa vida e a percepção de suas “atuações” é fundamental para que possamos pelo menos “desconfiar” de sua força, mesmo que somente o processo analítico nos permita entrar em contato emocional com a sua complexa realidade. Creio que ao completar a leitura do livro o leitor perceberá que o inconsciente transpassa o nosso cotidiano de várias formas e torna impossível pautar a nossa existência em uma visão reduzida do mundo e dos outros.

JS – A leitura do livro pode ajudar em quais aspectos?

Girola – O livro é resultado de muitos anos de estudo e do atravessamento da teoria psicanalítica pela experiência clínica com os meus pacientes, que são os meus grandes mestres. Mesmo assim, não é nenhum tratado de psicanálise, e sim um companheiro que pretende ajudar o leitor a lidar melhor com questões do seu dia a dia.

O livro não pretende oferecer conselhos práticos e nem “respostas” a problemas específicos. As perguntas dos leitores são nesse sentido uma provocação, para poder “pensar” juntamente com eles determinadas situações em que se faz presente o inconsciente, tornando mais complexa a visão do mundo, tanto a partir da percepção do mundo externo como do nosso próprio mundo interno.

JS – Ao escrever o livro, o senhor pensou em atingir algum público específico? Qual?

Girola – Diferentemente do de meu primeiro livro – A psicanálise cura? –, de teor mais acadêmico, Perguntas a um psicanalista destina-se ao grande público. O livro é escrito em linguagem acessível à maioria das pessoas medianamente instruídas, mas não é um livro de autoajuda. Evitei com cuidado a expectativa do leitor que pedia “conselhos”. Como já disse, meu objetivo é ajudá-lo a “pensar”, no sentido de ampliar sua percepção da realidade externa e do de seu mundo interno.

Os textos foram organizados em três seções: Comportamento, Vida amorosa e Pais e filhos, mas isso não impede que o leitor possa “brincar” com os textos da forma que achar mais conveniente. O livro não precisa ser lido de maneira sequencial. Os textos poderão ser escolhidos ao acaso e lidos separadamente, pois não existe uma sequência lógica a ser seguida.

JS – Ao escrever capítulos em que o leitor não necessita ler em uma ordem preestabelecida, o senhor teve a preocupação de escolher ou organizar por alguma prioridade?

Girola – Não existe uma prioridade e nem uma ordem. Aconselho que o leitor siga sua intuição e leia o que o seu inconsciente sugere naquele momento. Uma espécie de livre associação fora do setting analítico.

JS – Já no início o senhor fala da importância da simplicidade. Qual é a importância de quebrar o paradigma de que nesse tipo de leitura se deve- se manter um alto padrão de linguagem?

Girola – Recentemente, a psicanalista Maria Rita Kehl publicou um texto sobre a desnecessidade de escrever de forma complexa. Trata-se de uma elitização desnecessária do saber, que apenas satisfaz o ego do autor. Escrever torna-se de alguma forma o seu “gozo”. Escrever é uma forma de comunicação; é uma ponte que é lançada entre o emissor de uma mensagem e o seu receptor. Obviamente, no meio desse caminho, acontecem vários fenômenos, como ensina a Teoria da Comunicação, mas não por isso devemos complicar ainda mais o que já por si só é complicado, pois onde duas pessoas se encontram pela mediação de um texto, quatro estão presentes: o autor e seu inconsciente, o leitor e o seu inconsciente.

JS – Todos os casos apresentados no livro são verdadeiros?

Girola – Sim, os casos foram extraídos de minha experiência clínica ou de minha experiência pessoal.

JS – O senhor acha que a leitura já é suficiente para ajudar um paciente/leitor a resolver o seu problema?

Girola – Não, mas acredito que possa ajudá-lo a buscar auxílio de um profissional, se for o caso, e evitar de olhar superficialmente para os seus problemas.

JS – O que é mais gratificante na profissão de psicanalista?

Girola – O encontro com o ser humano em sua originalidade e surpreendente complexidade é o que mais me fascina no em meu trabalho. Como cristão, acredito que o ser humano é feito à imagem e semelhança de Deus. Cada um de nós é uma pequena fagulha do divino, um ecoar da palavra criadora de Deus, um Dabar Divino. Mas, ao mesmo tempo, o ser humano é marcado pela ambiguidade, que remete constantemente a suas falhas, ao seu limite e ao seu constante esforço de transcendê-lo.

A Nossa consciência não é a única dona da de nossa mente e a única promotora do de o nosso agir. O mundo inconsciente está sempre à espreita e é com isso que o psicanalista lida. Trata-se de um universo fascinante que Freud comparou a uma escavação arqueológica, na qual aos poucos vamos descobrindo elementos de um passado surpreendente.

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