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A banalidade do mal: Hannah Arendt

O filme Hannah Arendt mostra a vida dessa corajosa mulher e sua tentativa duramente contestada pelos contemporâneos de explicar o mal. Sua teoria se aplica aos dias de hoje?

O filme foca sobre um período específico da vida e da obra de Hannah Arendt, que resultou na publicação de seu artigo: Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Banalidade do Mal (Cia das Letras, 1999), resultado de uma cobertura jornalística encomendada pela revista New Yorker, sobre o processo contra o carrasco nazista A. Eichmann, um importante articulador do genocídio de seis milhões de judeus.

A leitura que Arendt fez dos autos do processo causou violentas reações, sobretudo por parte da comunidade judaica e dos acadêmicos da época, lhe valendo uma aberta perseguição e a acusação de ser simpatizante do Nazismo.

Mas afinal, por que incomoda tanto a tese de que Eichmann não era nenhum monstro e sim apenas um burocrata servil e obediente, uma espécie de alto executivo, a serviço de uma eficiente máquina de extermínio, de um sistema totalitário (Totalitarismo é outra obra de Arendt)) que priva o ser humano de sua capacidade de julgamento, tornando-o um ser amoral, esvaziado de si?

 Talvez o apaixonado interesse da autora pela Condição Humana (outra obra dela) e pelo problema do Mal, se origine em uma frustrante experiência pessoal. Na juventude Arendt conheceu o renomado filósofo Martin Heidegger, foi sua aluna e se apaixonou por ele e pelas suas ideias. O romance teve porém um desfecho amargo: justo quando a perseguição nazista contra os judeus começava a se intensificar, obrigando-a a fugir antes para Paris e depois para os EUA, o seu amante a surpreendeu ao aceitar o cargo de Reitor da Universidade de Freiburg e mostrando em seus discursos uma adesão servil ao Nazismo.

É possível que esse fato tenha despertado nela o interesse para saber como pessoas “normais” e inteligentes podem se associar ao Mal, sem se dar conta que estão envolvidas em uma trama sinistra. Em seus escritos Arendt mostra que os sistemas “totalitários” têm esse tremendo poder. Embora hoje restem poucos sistemas desse tipo (ditaduras), estamos mergulhados em um sistema totalizante, que tem as mesmas características dos sistemas totalitários, embora se apresente como libertário e democrático.

O que garante a adesão incondicional não é o autoritarismo, a suspensão dos direitos individuais (embora isso já tenha acontecido nos EUA e na Grã Bretanha) e a coerção policial e sim algo mais sutil. Como nos sistemas totalitários, estamos à mercê de slogans, frases feitas, mistificações geradas por uma propaganda tendenciosa, e uma coerção econômica. Ou você serve ao Mercado ou você está fora dele: um anúncio sombrio do seu fim.

Altos executivos e funcionários de baixo escalão estão empenhados em ações cujo resultado é visivelmente prejudicial a seus subordinados, clientes, fornecedores e parceiros. Mas isso é “inevitável” pela lógica do Mercado e todos obedecem sem pensar, em prol da promessa de “subir” na vida e não perder o emprego. O paralelo pode parecer exagerado, mas o homem de hoje é chamado a viver um esvaziamento de si que procura preencher com os infinitos apelos ao consumo, em busca de uma ascensão social que encobre o seu aviltamento, à mercê da banalidade do mal.

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