Por que a tese do fim do mundo vai e volta, causando tanto medo e ao mesmo tempo tanta curiosidade. Neste sentido, o filme “2012 O fim do mundo está chegando?”, do mesmo diretor de “Independence Day”, é bastante provocativo. O que o senhor acha?
“2012” é mais uma produção que segue o rentável e bem-sucedido filão dos filmes catástrofe do cinema norte-americano. Tudo indica tratar-se de mais um sucesso de bilheteria. Durante quase duas horas o espectador fica capturado por uma seqüência de efeitos especiais que o arrastam pelo cenário catastrófico do fim do mundo.
As cenas de destruição são apavorantes e as desesperadas tentativas dos protagonistas de fugir de sua inevitável extinção prendem o espectador, fazendo com que seja invadido por uma sensação de angústia e aflição.
As temáticas repetem o roteiro de outros filmes do gênero, mas, neste, a sensação de inutilidade dos esforços humanos diante do desencadear-se das terríveis forças da natureza é mais evidente. Desta vez, nem os próprios Estados Unidos, com todo seu poderio tecnológico e militar podem evitar o inevitável e fugir de sua destruição.
Mesmo assim, como na maioria dos filmes americanos, nem tudo está perdido. O esforço conjunto dos líderes das principais nações da terra dá lugar, numa desesperada corrida contra o tempo, a uma tentativa de preservar a vida de uns poucos privilegiados, os que podem pagar, e de alguns exemplares das espécies animais.
Os temas que se desenvolvem paralelamente ao grande enredo catastrófico, são os de costume. Um pai separado busca salvar seus filhos e, por tabela, reconquistar sua mulher; conflitos familiares mal-resolvidos são enfrentados de última hora e, naturalmente, não falta o emergir da cobiça humana e do egoísmo, contrapostos a atitudes heróicas e apelos nobres. Para os candidatos à sobrevivência fica a pergunta: “Que tipo de humanidade queremos preservar?”.
Se à tecnologia é concedida alguma chance de salvar a raça humana, nem a meditação do monge budista isolado no Himalaia, nem a prece do Papa, reunido com milhares de fieis na praça de São Pedro, e nem os milhões de muçulmanos em oração na Meca podem parar o poder destruidor da Natureza. Sem distinção de raça, de credo e de condição social o flagelo da Natureza enfurecida acaba com qualquer sinal de vida na terra.
O filme retoma uma previsão, contida no Calendário Maia, de acordo com a qual no ano 2012 se daria o fim de um ciclo e o início de uma nova era. Para alguns isto coincidiria com uma singular conjunção planetária que dispararia eventos catastróficos. Trata-se de teorias científicas sobre variações no magnetismo da terra, provocadas pela intensificação das explosões solares que provocariam, terremotos, erupções de mega-vulcões, tsunamis gigantescas e mudanças na rotação da terra.
Os Maias tinham um calendário preciso e previram vários acontecimentos. O calendário Maia prevê no solstício de Inverno, 21 de Dezembro, de 2012 um evento de singular importância, mas ao mesmo tempo prevê também eventos que são sucessivos a 2012. Quanto a um possível evento sideral de proporções catastróficas, ele é desmentido pelos cientistas, como é possível constatar no site da NASA (http://astrobiology.nasa.gov/ask-an-astrobiologist/faq).
De qualquer forma, o nosso objetivo não é confirmar ou refutar a veracidade de tais previsões e sim discutir por que elas se repetem com tanta freqüência e despertam tamanho interesse no ser humano.
Talvez os próprios Maias possam nos oferecer uma pista. Para eles, a atual era seria á quarta criação. Depois de três tentativas fracassadas, os deuses, cerca de 3000 anos antes de Cristo, finalmente criaram a raça humana. Da mesma forma a era parece destinada a terminar em 2012, para dar lugar a um novo ciclo. A visão Maia sugere uma progressão cíclica do tempo, feita de novos inícios e, portanto, também de finais dos tempos.
A necessidade de voltar ao estado caótico inicial e a necessidade de um novo começo dominam esses mitos. Tudo isso nos leva a pensar que existe, inscrito no psiquismo, esse duplo movimento. O retorno ao caos primitivo e a busca de novos começos.
No primeiro movimento –o retorno ao caos primitivo– se inscrevem os processos inconscientes dominados pela agressividade e pela destrutividade, que despertam em nós um interesse magnético pela destruição e pela morte. O segundo movimento nos lança em direção ao novo, à descoberta de novos horizontes, em direção de sempre novas criações e de novos reinícios.
Acredito que essas duas forças dominem o psiquismo humano e o seu interesse pelos temas apocalípticos. O sucesso dos filmes sobre fim do mundo e grandes catástrofes confirma que isso faz sentido.