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Do sonho do ”exa” à decepção do “epta”

Do sonho do ”exa” à decepção do “epta”

O número seis (exa em grego) é considerado um número maldito. Nos textos bíblicos o seis representa o próprio diabo, a pedra de tropeço. A Copa que devia trazer o “exa” acabou se tornando uma verdadeira pedra de tropeço, não apenas pelo humilhante desfecho, mas também pela frustração das esperanças que inicialmente despertou. A trágica queda do viaduto de Belo Horizonte é a imagem simbólica disso, assim como as numerosas “obras” não concluídas ou sequer iniciadas.

O sete (epta) é o número que indica a totalidade. Os sete gols, um recorde no âmbito dos resultados desastrosos nas semifinais da Copa, geraram um sentimento de derrota total.

A jornalista da Folha, Eliane Brum no seu artigo “O Brasil do eu acredito” descreve com propriedade o processo alucinatório vivido pela seleção e pelo Brasil como um todo. Transformados em astros pela mídia, os jogadores deixaram de lado a realidade, para serem transportados pela força do “eu acredito” para além de suas reais possibilidades em direção da “certeza” eufórica, do dever da vitória. Ao se depararem com a superioridade do outro time, os jogadores em campo entraram em um estado catatônico de colapso psíquico acompanhado pela “raiva” crescente da torcida que se viu roubada do seu sonho, também baseado no “eu acredito que tudo posso”.

O sentimento geral de fracasso e de humilhação demonstra que o país do Carnaval não lida bem com a frustração e com o reconhecimento de seus limites. É como se o funcionamento psíquico dos brasileiros fosse pautado por uma espécie de “bipolaridade”, oscilando entre a sensação de fracasso e de esvaziamento e a “euforia” maníaca ufanista, da qual o Galvão Bueno é um símbolo. O “meio”, talvez por causa da situação socioeconômica do país, sempre foi um território de ninguém, marcado pelo perigo angustiante da miséria e da resignação, ao qual se opõe o apelo alucinado da riqueza a qualquer custo.

Entre o estado prostrado da depressão e a fuga para à euforia maníaca, a sanidade está na aceitação dos limites impostos pela realidade (o quarto lugar), que às vezes aponta, com a inocência de um menino, que “o rei está nu”.

 Talvez os alemães que, depois do sonho alucinado do nazismo, se refizeram da humilhação de lidar com um país destruído e a autoestima abalada, possam nos ensinar a superar o sentimento de fracasso e de vergonha, avaliando com realismo os pontos fortes, as fraquezas, as potencialidades e os desafios que nos ameaçam.

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