Depois do furacao

Depois do furacao

O último processo eleitoral foi marcado por profundos conflitos ideológicos que tomaram conta das redes sociais, das discussões entre amigos e colegas, chegando até a perturbar o convívio de numerosas famílias. O cenário de destruição parece aquele que caracteriza a passagem de um furação. É difícil avaliar se o estrago psíquico que essas discussões provocaram poderá com o tempo ser superado de forma a reconstruir tecidos de convivência severamente esgarçados.

Para achar o caminho da reconstrução do tecido social, é importante saber “escutar” o outro e perceber por que as feridas abertas foram tão significativas e por que razão as divergências foram tão irreconciliáveis e defendidas com tanta ênfase. Aliás esse continua sendo o problema das diferentes tendências que disputam espaço no cenário político do país, tanto as que ganharam as eleições como as que perderam. Os discursos continuam refletindo um grave senso de irresponsabilidade, falta de percepção da realidade e tendências esquizoides.

Agressões como as que ocorreram durante a campanha eleitoral podem ferir de forma significativa o que algumas linhas psicanalíticas definem como o “Self” do indivíduo. O self é difícil de definir, como muitas das coisas mais simples que estão presentes na nossa vida. De todas as definições a que mais considero adequada é aquela do psicanalista francês Pontalis, que vê o Self essencialmente como uma “experiência”. Não é, porém, qualquer experiência, trata-se da experiência inicial básica em torno da qual toda a personalidade individual se organiza, desenvolvendo suas “formas”.

As formas do self definem nossa maneira de estar no mundo e nos dão segurança, são referências para a construção da nossa ética e da nossa estética de vida, pois em torno delas se organizou a nossa estrutura egóica.

Quando algum elemento externo “agride” ou ameaça as formas do Self, isso e percebido pelo psiquismo como uma violência e uma agressão muito graves, impossibilitando qualquer possibilidade de “elaboração” que não passe através do afastamento do que é considerado um representante dessa ameaça.

Todo o processo remete a uma fragilização egóica que leva à agressão, ao ódio, ou até à manipulação perversa da realidade e do outro, como vemos nos discursos e nas atitudes que percorrem as redes sociais e a mídia.

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