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Comportamento

Comprar ou não comprar?

Sinto-me culpado quando vou comprar algo para mim, com a sensação de que tudo de certa maneira pode ser supérfluo. Isso é normal?

Comprar é um ato supostamente voltado a atender a uma necessidade concreta. No entanto, as compras acabaram assumindo uma característica totalmente diferente. Fazer compras tornou-se para muitos um “programa”, assim como ir ao cinema ou ao restaurante. Roteiros de compras passaram a se tornar parte essencial das viagens, muitas vezes substituindo roteiros turísticos convencionais.

Se para alguns a compulsão para comprar se tornou um problema, para outros, a compra não parece ser autorizada e remete a uma desagradável sensação de culpa. Compulsão e culpa, embora sejam sentimentos aparentemente opostos, apontam para uma dificuldade do psiquismo de lidar com o ato de comprar de forma simples e natural. Mas por que comprar algo tem um valor simbólico tão importante para a nossa mente?

 O gesto de comprar responde cada vez mais à satisfação de um impulso, mais do que a uma necessidade. É disso que vive o mundo capitalista: consumir para satisfazer desejos, mais do que atender a necessidades reais. A necessidade existe, mas é imposta muito mais pelos estímulos do mundo externo do que por um processo interno. À mercê de sempre novos estímulos o desejo é renovado constantemente em busca de um novo gozo, cada vez mais fugaz e insatisfatório, pois o objeto do desejo é descartável e é rapidamente substituído por outro.

Tudo isso explica a compulsão para o gasto, mas não explica a culpa. Para algunos de psiquismo a apropriação de algo é problemática, porque não é autorizada internamente. A estrutura desejante é fraca. Falta um Eu suficientemente constituído para sustentá-la. Geralmente isto está associado a uma dificuldade mais ampla de se apropriar de aspectos da própria personalidade que são facilmente “esquecidos”, dando uma sensação de vazio, de inexistência e de inconsistência e uma constante necessidade de recorrer ao outro para obter confirmação da legitimidade do próprio desejo e das próprias percepções.

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