Às vezes tenho uma sensação de vazio. Dá vontade de jogar tudo para o ar e começar de novo, porém falta coragem quando se é casado e têm filhos e gente que dependem de mim.
A pergunta remete a duas situações emocionais importantes: a sensação de vazio e o desejo de começar de novo, jogando tudo pelos ares. Perda de sentido e aprisionamento descrevem essa situação psíquica, que, dependendo de sua intensidade e da pressão da situação externa, pode levar a mudanças ou ao colapso.
A vontade de j0gar tudo pelos ares, demonstra uma insatisfação profunda com o estado atual das coisas. O casamento e a responsabilidade para com os filhos e outros membros da família são percebidos como um peso e como circunstâncias aprisionantes. Normalmente esses sentimentos acometem justamente quem sente a responsabilidade para com os outros de uma forma muito intensa.
Quando a nossa vida é dominada pelo núcleo psíquico “da obrigação”, tudo se torna difícil e pesado. Trata-se de uma instância interna que nos remete àquilo que o psiquismo considera uma espécie de “lei inexorável” à qual não pode fugir. O outro, nesse sentido, se torna uma prisão, pois o vínculo com o mundo externo é dominado por essa sensação forte de “dever” e de submissão. A sensação de vazio pode se aprofundar, levando aos poucos a um estado emocional depressivo, que é destrutivo.
Tudo isso deve ser levado em conta quando se avaliam os riscos da mudança, pois, às vezes estes são menos importantes que os riscos associados ao permanecer em uma situação que pode se tornar patológica.
Como costumo dizer nesta coluna, os sentimentos devem ser levados à sério, pois eles não existem por acaso. Atrás de um sentimento negativo existe uma situação emocional que aflige a mente. Isto não quer dizer que devamos simplesmente ir atrás dos nossos sentimentos, levados por eles. Quer dizer apenas que os sentimentos devem ser avaliados e entendidos, isto é, eles devem ser entendidos e significados. Somente assim podemos lidar com eles de forma adequada.
