O que torna uma relação estável e prazerosa? Quais os elementos necessários para que uma relação dê certo e seja saudável? Em um primeiro momento vou falar de quatro ingredientes. Poderíamos compara-los aos quatro elementos da vida terrestre: a água, o fogo, o ar, a terra. O que permite que uma relação se mantenha aquecida (fogo)? O que faz uma relação “respirar” (ar)? Qual é o elemento no qual uma boa relação fica plantada (terra). E, finalmente, qual é o elemento que impede que uma relação se torne árida e seca (água)?
A atração é o primeiro ingrediente importante de uma relação. Ela é o fogo que aquece o vínculo amoroso e o põe em movimento. A atração não depende apenas dos atributos físicos do parceiro. Embora a maioria das mulheres não acredite nisso, a atração combina uma série de fatores (cf. o artigo As leis da atração/rejeição). A voz, o sorriso, o olhar, o perfume, o jeito de andar, um detalhe do corpo, a postura, se combinam com elementos não sensoriais que são percebidos pelo inconsciente de forma sutil.
A cumplicidade é o ar, ou seja, o que faz com que uma relação respire e seja oxigenada. A cumplicidade envolve uma maneira comum de sentir as coisas e de investi-las “eroticamente”. É um estar à vontade com o outro sem ter que dar explicações, sem ter que se “esforçar”, sem ter que se adaptar. É um prazeroso estado de repouso. Ao mesmo tempo, a cumplicidade é a percepção de que um está do lado do outro, sem questionamentos, sem desculpas, sem hesitações.
A afinidade, ou seja, a identificação com os aspectos éticos e estéticos da personalidade do outro é o terreno sobre o qual se pode construir uma relação sólida (terra). O diálogo com o outro somente é possível se existir essa identificação, na qual aspectos do self das duas personalidades encontram um terreno comum, onde podem acontecer trocas enriquecedoras. É nesse terreno que também cresce a possibilidade de compartilhar aspectos diferentes da realidade, nos quais os mundos internos dos parceiros se encontram e interagem resultando em trocas enriquecedoras. É essa terra fértil que retro-alimenta a cumplicidade e a atração. Ao mesmo tempo é sobre esse terreno que o casal toma suas decisões, constrói seus sonhos, realiza seus gestos criativos, imprime à realidade que o envolve suas formas características (na casa, nos filhos, no estilo de vida) construindo uma história comum, o cimento mais forte que torna uma relação realmente estável. Quando falta este elemento, o relacionamento é construído sobre areia.
Finalmente podemos falar do quarto elemento: a admiração. Trata-se da água que rega uma relação, impedindo que se torne árida e seca. A admiração é ao mesmo tempo resultado da combinação dos outros elementos, mas também está na sua origem. Admirar o parceiro implica em conhecer a acolher seus defeitos e falhas. A verdadeira admiração, aliás, supõe o reconhecimento dos aspectos falhados do outro, caso contrário estaríamos diante da admiração apaixonada, uma adesão neurótica ao outro, fruto da idealização.
Não incluí de propósito nos quatro elementos a fidelidade. A meu ver, ela decorre espontaneamente dos aspectos acima mencionados. O ideal é que a fidelidade não seja fruto de um “esforço” e, sim, a conseqüência de uma relação saudável.
Acredito, contudo, que haja um quinto elemento que dinamiza e dá vida aos outros quatro. Poderíamos chamá-lo de amor (no filme que traz esse título o quinto elemento é o aspecto feminino que se sacrifica para os outros), mas prefiro fugir desse termo que se tornou vago e ambíguo, para falar da capacidade de acolher e cuidar. Trata-se de uma atitude fundamental para que uma relação possa “funcionar”. Vale a pena notar, que assim como no filme, trata-se de um aspecto “feminino”, mas ele é necessário tanto no homem como na mulher. Em parte esse elemento depende da maneira como cada ser humano foi acolhido e cuidado desde o seu nascimento, mas pode tratar-se também de um aspecto “adquirido” reagindo à falta de cuidado e acolhimento primitivos (na infância).{jcomments on}