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Aprendendo a sonhar

Aprendendo a sonhar
Sempre quis ser maior de idade. Agora que tenho 18 anos estou sem perspectivas de trabalho e de namoro e confesso que com isso estou frustrado. Como posso sentir-me melhor?
M.J.S. de Minas Gerais

Aprendendo a sonhar

É bastante comum deixarmos de viver os nossos sonhos “agora” e adiar a possibilidade de sonhá-los para o “amanhã”. Frases como: “Quando me mudar, quando me aposentar, quando me formar, quando casar, quando for promovido, quando for maior de idade” estabelecem marcos idealizados no caminho de nossa vida. A mesma expectativa pode ser constatada, por exemplo, no início do ano novo, sempre carregado de promessas e de propósitos.No entanto, quando o acontecimento tanto esperado se realiza, percebemos que as coisas continuam como antes. Nada mudou. Não existe uma mágica capaz de mudar por si só a nossa vida. Os sonhos precisam ser sonhados e ninguém pode sonha-los no nosso lugar.

No caso do nosso leitor, alguns “sonhos” são esboçados: namorar, ter um trabalho, ou seja conseguir a própria autonomia e o próprio lugar no mundo. A decepção no entanto é inevitável ao constatar que a maior idade não trouxe nada disso.

Mas como aprender a sonhar? Nem todos temos a mesma capacidade de sonhar. Sonhar é poder brincar com nossos desejos. Uma primeira pergunta é: quais são meus verdadeiros desejos? Curiosamente, nem sempre é fácil identifica-los. Parece simples, mas não é. Muitas vezes o que consideramos como desejos “nossos”, não são realmente nossos. Foram comprados na feira dos vendedores de desejos.

Geralmente, os primeiros vendedores de desejos são os nossos próprios pais, ou a família como um todo. Ali já encontramos desejos prontos, sonhos sonhados pelos outros. Podemos encontra-los bem passadinhos, prontos para serem vestidos por nós. Não precisamos fazer esforço algum.

O próprio meio em que vivemos nos proporciona “sonhos” prontos, já “sonhados”. São os vendidos pela mídia, pela propaganda, pela moda, que remetem ao que todos fazem, ao que todos têm, ao que todos “sonham”. Pode ser um corpo escultural, um emprego de executivo, um estilo de vida “descolado”, uma namorada tipo capa de revista.

No entanto, os sonhos sonhados pelos outros não têm força. Eles não abrem caminho para a sua realização concreta. Eles de fato não provêm daquele lugar sagrado que é o centro de nossa personalidade. Por isso, são deixados para o futuro, “quando algo – supostamente – vai acontecer”.

Somente quando um sonho é realmente nosso e se refere a um desejo autêntico e portanto a uma necessidade realmente ligada à nossa personalidade, ele pode de fato ser sonhado e se abrir caminho para a realização no concreto.

O que caracteriza o verdadeiro sonho é uma curiosa sincronia entre o nosso mundo interno, onde o sonho é elaborado acariciado e ensaiado, e o mundo externo, onde ele precisa encontrar os elementos que permitem a sua realização.

A sincronia se caracteriza por uma experiência singular. Trata-se da sensação de encontrar fora de nós algo que era esperado, conhecido, algo que tinha sido antes “criado” dentro de nós, embora com contornos ainda não definidos e claros. Sim, porque o que encontramos fora de nós, pode ser diferente daquilo que, em nosso interior, tentamos revestir de representações concretas.

O que caracteriza esse encontro entre o nosso mundo interno e o mundo externo é uma prazerosa sensação de satisfação, de plenitude, de realização. A mesma sensação que uma criança sente ao brincar com o seu brinquedo preferido, que é algo que está ali, na sua frente e que, ao mesmo tempo, ela está recriando dentro de si, para sempre novas brincadeiras.

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