A síndrome do imediato

Conversando com um amigo me dei conta de como mudou a nossa relação com o tempo. Digo mudou, porque para os que viveram antes dos anos oitenta, houve uma mudança, embora, por ter sido lenta e progressiva, talvez não tenha sido percebida claramente. Para os que nasceram depois, não podemos falar em mudança, pois aprenderam a viver desde muito cedo com outra noção do tempo: a única que conhecem.

A queixa do meu amigo, um empresário, dizia respeito à dificuldade dos seus subordinados de pensar, tomando uma distância emocional dos problemas, antes de reagir mandando um e-mail, um torpedo, ou fazendo uma ligação. O fato do outro estar disponível ao toque de um botão criou a “cultura do imediato”. A tecnologia nos impele a tomar decisões rápidas e a reações imediatas, que parecem dispensar a necessidade do pensamento.

Quando falo em pensamento, estou me referindo à possibilidade psíquica de processar mentalmente a realidade, fazendo com que nossas emoções sejam ajustadas ao mundo externo e sejam contidas pela capacidade de pensar o real, um processo que na língua inglesa é definido com a palavra realize, compreender algo como sendo real.

Curiosamente, a facilidade que as novas tecnologias nos oferecem para nos comunicar pode impedir que nos comuniquemos, fazendo com que as “comunicações” (torpedo, e-mail, ligação telefônica, conversa via chat, mensagem via Twitter, etc.) sejam na realidade puras descargas emocionais que acabam não sendo “filtradas” pelo pensamento. Dito de outra maneira, apesar da extrema facilidade de nos comunicarmos, acabamos ficando cada vez mais à mercê do nosso mundo interno, com pouco acesso ao mundo do outro.

No passado, dificuldades técnicas impediam reações imediatas. Tudo levava certo tempo e isso obrigava a suportar as emoções sem que pudessem ser “comunicadas” imediatamente. O tempo entre os estímulos do ambiente e as respostas era em muitos casos maior, não porque as pessoas fossem mais tolerantes, mas porque eram obrigadas a isso pois nenhum dos atuais meios de comunicação estava ao alcance. O correio, o deslocamento físico e quando muito o telefone (não existia o celular) eram os únicos meios para se alcançar o outro e tudo isso levava tempo.

A reação imediata é muitas vezes uma simples “evacuação” de nossas emoções, diante da dificuldade de suportar a “turbulência emocional”, ou seja a frustração que o encontro com a realidade nos proporciona na maioria das vezes. O conselho de “contar até mil” antes de reagir é realmente sábio, pois a nossa mente leva um tempo para processar a turbulência emocional, antes disso o pensamento não é possível, é bloqueado pelos nossos estados emocionais inconscientes.

O problema é que contar até mil no mundo de hoje parece ser uma tremenda perda de tempo. Parece, pois não é o que pensa o meu amigo empresário, pois os estragos provocados pelas “evacuações emocionais” são enormes e comportam perda de tempo, de dinheiro e muito desgaste psicológico para serem reparados. Isto quando é possível repará-los.

O imediatismo costuma ser o caminho mais longo para a perfeição e o mais curto para perdas às vezes irreparáveis. Pendurados em nosso celulares, iPad, notebooks e netbooks estamos na maioria do tempo isolados nos comunicando apenas com o nosso mundo interno, pois “o mundo” que acessamos é um mundo virtual, ou seja para a nossa mente ele pode facilmente tornar-se um substituto do mundo real, totalmente manipulado pelo nosso mundo interno. Quando ele nos incomoda podemos facilmente “desligá-lo” para religa-lo quando nos dá na telha, dando-nos uma ilusória sensação de onipotência.

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