(C) Valéria Theodoro Ramos
No ano II da Era SARS-COV-2, imersa em confusão mental e confinamento, encontro numa névoa letárgica que me envolve espelhos estilhaçados: somos cerca de 500 mil mortos. Para além de estatísticas, encarnam-se nomes, histórias, vozes, pertencimentos. A ferida da brasilidade expõe-se em toda sorte de condenação coletiva: econômica, social, política, moral. Perguntas insistem: Quantos cabem no divã? O que cabe no divã? Tudo supura: miséria, racismo, normatividade binária, sexualidades, invisibilidades, estado de exceção. No estudo da psicanálise um léxico novo se esboça (neuroses, psicose, perversão, fronteiriços e outras variações do… “patológico”); tento em vão apreendê-lo no espaço entre o céu que desaba e o horizonte se apagando… Retenho apenas que afetos e representações explodem…Desamparo e violência suplicam por sentido…Preciso me distanciar. Irei a Berghof[1], onde doentes são os outros.
Diário de Viagem
Sanatório Internacional Berghof, localizado em Davos-Platz, é cenário da obra de Thomas Mann, “A Montanha Mágica”. Trata-se de local destinado à cura de pacientes tuberculosos, como o primo de Hans Castorp a quem esse vai visitar.
Descaminho
Enquanto subimos a Montanha, Hans e eu nos inscrevemos num espaço-tempo confortável: não pertencemos a esse destino de adoecimento e sabemos exatamente a duração de nossa estada, afinal temos um papel bem definido: visitantes.
Ao chegar em Berghof é que começa o descaminho: assisto à desconstrução de Hans Castorp. Hans é um engenheiro que se desconstrói. As coisas assumem um outro sentido, a começar pelo tempo, que perde sua linearidade. Cíclico transforma-se em tempo de repetição: estações, refeições, repousos, passeios. Numa cadência regrada, os enfermos de Berghof são conduzidos como num transe.
A presença de Clawdia Chauchat, batendo portas com estrondo, rompe o pulsar rítmico e a temporalidade ganha profundidade para Hans Castorp. Os olhos quirguizes da paciente russa desestabilizam o espaço ao atravessá-lo. É a Hans que esses olhos (que não o veem) atravessam, desorganizando seus “sentidos”. Exasperado, com a imagem do feminino, Hans considera:
“Claro que havia uma finalidade definida no fato de as mulheres terem o direito de se vestir dessa forma deliciosa e maravilhosa, sem com isso infringir as regras da decência: tratava-se da próxima geração, da procriação da raça humana, sim, senhor! Mas, quando a mulher estava interiormente enferma, quando não era, de maneira alguma, apta para a maternidade – que dizer então? Haveria ainda algum sentido no uso de mangas que despertassem a curiosidade dos homens – quanto a um corpo carcomido por dentro? Era evidente que isso não tinha sentido algum, deveria ser considerado indecente e proibido. Pois no interesse de um homem por uma mulher enferma havia tão pouco de razão quanto… bem, quanto houvera naquele silencioso interesse que Hans Castorp sentira por Pribislav Hippe, uma comparação estúpida, uma reminiscência um tanto penosa. Mas que se havia apresentado espontaneamente, sem que ninguém a evocasse”[2].
O tempo deixa de ser circular, agora é um torvelinho que arrasta Hans Castorp e assume caráter de experiência pessoal: tempo da superposição de lembranças[3] e de ambivalências [4].
Diário de Viagem
LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 264. “Lembrança encobridora: lembrança infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela especial nitidez e aparente insignificância de seu conteúdo. A sua análise conduz a experiências infantis marcantes e fantasias inconscientes. Como o sintoma, é uma formação de compromisso entre elementos recalcados e a defesa”.
Idem, p. 18.” O conflito edipiano, nas suas raízes pulsionais, é concebido como conflito de ambivalência (…) uma vez que uma das principais dimensões é a oposição de entre “… um amor fundamentado e um ódio não menos justificado, ambos dirigidos a mesma pessoa.”
Sintoma[5] ou o retorno ao “Monte del olvido”
Preso num tempo e espaço alterados, Hans perde seu estatuto de visitante, de mero observador, abandonando sua onipotência de normalidade. Imerso nesse ambiente de “suposta cura”, ele parece ansiar intimamente por adoecer[6].
Diário de Viagem
Ibidem, p. 199. “Formação de sintoma: … resultado de uma elaboração psíquica. … indícios de retorno do recalcado.” p. 463. Retorno do recalcado: “Processo pelo qual os elementos recalcados, nunca aniquilados pelo recalque, tendem a reaparecer e conseguem fazê-lo de maneira deformada sob a forma de compromisso”.
Adoecer: aqui usamos no sentido do que sente dor, aquele que sofre.
Num passeio matinal, só, cai em estado febril que lhe impõe o retorno a um momento no colégio, quando pela primeira vez encontrara os olhos que o capturam no presente em Berghof:
“Depois, olharam-se sorrindo e, como nada mais restasse a dizer, deram lentamente meia volta e separaram-se. Foi tudo. Mas nunca na vida Hans Castorp sentira-se mais satisfeito do que naquela aula de desenho, ao trabalhar com o lápis de Pribislav Hippe, e com a perspectiva de entregá-lo, mais tarde, ao seu dono, como consequência natural e espontânea daquilo que haviam combinado. Tomou a liberdade de apontar o lápis, e das lasquinhas vermelhas que sobraram, guardou três ou quatro durante quase um ano numa gaveta da sua carteira. Ninguém que as visse suspeitaria da sua importância. A devolução realizou-se, de resto, da forma mais simples possível, em perfeita conformidade com as intenções de Hans Castorp, que até se orgulhava um pouco desse fato, displicente e pretensioso que se tornara pela intimidade com Hippe. – Tome – disse. – E muito obrigado. Pribislav não respondeu nada; limitou-se a verificar rapidamente o mecanismo e meteu a lapiseira no bolso. Depois disso, nunca mais voltaram a se falar. De qualquer maneira, porém, haviam se falado uma vez, graças ao espírito empreendedor de Hans Castorp. Abriu os olhos, ainda confuso pela intensidade do seu arrebatamento”.[7]
Incorporando fisicamente a angústia[8], possuído por febre, hemorragia nasal, taquicardia e recordações, Hans ressente afetos[9] e em associação[10] encontra sentidos, contra os quais se defende:
“Parece que sonhei!”, pensou. “Pois é, era Pribislav. Faz tempo que não lembro dele. Onde é que foram parar aquelas lasquinhas? A carteira está no sótão, na casa do tio Tienappel. Devem ainda estar na gavetinha esquerda. Não as tirei. Nem sequer lhes prestei a atenção suficiente para jogá-las fora… Era Pribislav, em carne e osso. Eu nunca teria pensado que tornaria a vê-lo tão nitidamente. Como se parecia com ela, com aquela mulher, ali do sanatório. Quem sabe se não é por isso que eu me interesso tanto por ela? Bobagem! Pura bobagem!”[11]
Diário de Viagem
LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p.27: “…como fenômeno automático e como sinal de alarme, a angústia deve ser considerada como um produto do estado de desamparo psíquico do lactente, que é evidentemente a contrapartida do seu desamparo biológico”. A angústia automática é uma resposta espontânea do organismo a essa situação traumática ou à sua reprodução. Por “situação traumática” deve-se entender um afluxo incontrolável de excitações variadas demais e intensas dema
Idem, p. 9: “Segundo Freud, toda pulsão se exprime nos dois registros, do afeto e da representação. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações.”
Ibidem, p. 36. “… qualquer ligação entre dois ou mais elementos psíquicos, cuja série constitui uma cadeia associativa. (…) conjunto do material verbalizado no decorrer da sessão psicanalítica.”
Recalcado ou os invisíveis
Hans não é mais o visitante bem-educado que chegara ao sanatório. Agora espera por portas que batam. Como os demais, também ele guarda em si uma marca, uma sombra nos pulmões, que não nega, ao contrário a expõe. Enquanto o jovem engenheiro adoece, reivindicando o reconhecimento de sua dor, insurge-se contra os ocultamentos de Berghof: enfermos terminais e mortos relegados à invisibilidade.
“Hans Castorp foi ver o defunto. E se o fez foi por antipatizar com o sistema vigente, de ocultamento, por desprezar a atitude egoísta dos outros, que não queriam saber nem ver nem ouvir coisa alguma, e porque desejava, com sua ação, contrariar essa atitude. À mesa fizera uma tentativa no sentido de mencionar o óbito, mas houvera em face do assunto uma repulsa tão unânime e tão obstinada que Hans Castorp sentira vergonha e indignação. A sra. Stöhr chegara a mostrar-se agressiva. Que ideia era essa de falar daquelas coisas? perguntara. Que espécie de educação ele havia recebido? O regulamento da casa tinha o cuidado de proteger os pensionistas contra o contato com tais histórias, e agora vinha um novato e se metia a falar disso em voz alta…“[12]
Hans reivindica o reconhecimento da morte e o direito ao luto. Diante da angústia do inominável, que alívio, senão este, se anuncia? Não bastasse o desamparo primeiro da ruptura narcísica, revelando a solidão em vida, agora se deparava com a negação da vulnerabilidade do humano no desamparo da morte.
Transferência: o encontro possível entre fala e escuta
Diário de Viagem
LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 514: “Designa em psicanálise o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica. (…)A transferência é classicamente reconhecida como o terreno em que se dá a problemática de um tratamento psicanalítico, pois são sua instalação, as suas modalidades, a sua interpretação e a sua resolução que caracterizam este.”
Com Hans, percebemos que o acesso ao “não conhecido[13]” demanda o rompimento de significações estabelecidas (“regulamentos que protejam contra histórias”). Para ter reconhecida sua narrativa, encontra uma língua estranha aos interlocutores: ele próprio (alemão) e Clawdia Chauchat (russa). Nada nos coloca numa posição mais vulnerável do que falar uma língua que não a materna. Como uma nova castração, um novo rompimento narcísico, afastamo-nos do “inconsciente” como discurso do Outro-Mãe. A vulnerabilidade de uma língua estranha é a que ostensivamente se compartilha. Assim é possível atentar aos não-ditos, “pontos-surdos”; enxergar o não visível, “pontos-cegos”; acolher a ambiguidade e a contradição. Em transferência[14], Hans ao professar apaixonadamente seu amor a Clawdia, numa língua estranha a ambos, resgata do reprimido e, ao narrar, reconhece seu amor ao jovem Prisbilav“Mais quant à ce que je t’ai reconnue et que j’ai reconnu mon amour à toi,- oui, c’est vrai, je t’ai déjà connue, anciennement, toi et tes yeux merveilleusement obliques et ta bouche et la voix, avec laquelle tu parles une foi déjà, lorsque j’étais collégien, je t’ai demandé ton crayon, pour faire enfin ta connaissance mondaine, parce que je t’aimais irraisonnablement, et c ‘est de là, sans doute c’est de mon ancien amour pour toi que ces marques me restent que Behrens a trouvées dans mon corps, et qui indiquent que jadis aussi j’étais malade…”[15]
Diário de Viagem
MANN, T. A Montanha Mágica, p. 352. “Mas quanto a eu tê-la reconhecido e ter reconhecido meu amor por você…sim, é verdade, já conheci você antigamente, você e seus olhos maravilhosamente oblíquos e sua boca e sua voz, com a qual você fala… já uma vez, quando eu era colegial, pedi-lhe sua lapiseira, para enfim travar conhecimento social, porque eu a amava irracionalmente, e é daí, com certeza de meu antigo amor por você que me restam essas marcas que (dr.) Behrens encontrou em meu corpo, e que indicam que também outrora eu estava doente…”
Berghof: o mundo
Esses excertos da Montanha Mágica são tomados livremente como metáfora. O que acontecerá a Hans Castorp? Não sei. Que conclusão posso chegar acerca dos meandros de identificação ou de identidades do nosso personagem? Nenhuma. Não se trata de análise de uma obra, mas de uma licença com intuito de elaborar questões que me perpassam e superam: aspectos da abordagem psicanalítica como afetos, representações, recalques, retorno do recalcado, transferência…questões urgentes como exclusão, raça, gênero, sexualidade, luto.
De algum modo, Berghof ao ocultar mortos, recalca e reprime a própria morte e o trauma vivenciado por todos. Tratando a todos como turistas em férias, nega o conflito/dor (sombra que cada um traz no próprio psiquismo).
De alguma forma, esse “estado de nirvana”[16] parece nos capturar na ordem da morte (pulsão de morte[17]) na acepção de desafetação (negação do conflito).
Diário de Viagem
LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 413. (…) “princípio do Nirvana como princípio econômico da redução das tensões a zero…estaria inteiramente a serviço das pulsões de morte.”
p.407. “No quadro da última teoria freudiana das pulsões, designa uma categoria fundamental de pulsões que se contrapõem às pulsões de vida (…) Voltadas inicialmente para o interior e tendendo à autodestruição (…) seriam secundariamente dirigidas ao exterior, manifestando-se sob a forma da pulsão de agressão ou destruição.”
Não posso deixar de pensar na sociedade pré-castástrofe sanitária, sociedade mundializada, neoliberal onde o Supereu dilui imperativos de condutas “fazer ou não fazer”; para impor conformidades de “ser”: padrões de subjetividades[18], adequações e uniformizações. Recalca-se não apenas o desejo, mas se nega o próprio conflito indelével, a clivagem constitutiva, a vulnerabilidade.
A cura proposta em Berghof, insustentável como o imperativo de gozo neoliberal, é a própria morte. Berghof é o “mundo todo” e cada morada, sejamos hoje acometidos pelo vírus ou não. Cada um adoece do mundo. E o não reconhecimento do sofrimento é o não reconhecimento do próprio sujeito.
“A originalidade de Ferenczi consiste em atribuir ao desmentido a vivência do trauma: “O pior é realmente o desmentido, a afirmação de que não aconteceu nada, de que não houve sofrimento (…) é isso, sobretudo, o que torna o traumatismo patogênico” (FERENCZI, 1931/1992, p. 79). No texto em alemão o termo utilizado é Verleugnung, que podemos traduzir por desmentido ainda que alguns autores prefiram utilizar descrédito (PINHEIRO; VIANA, 2011). Por desmentido entenda-se o não-reconhecimento e a não-validação perceptiva e afetiva da violência sofrida. Trata-se de um descrédito da percepção, do sofrimento e da própria condição de sujeito daquele que vivenciou o trauma. Portanto, o que se desmente não é o evento, mas o sujeito[19].”
O não reconhecimento é a violência difusa no corpo social.
Violência e desamparo
A castração edípica como comando (não cobiçarás tua mãe, não matarás teu pai) inscreve-nos na ordem da violência (ou ameaça de), mas também nos remete à condição de desamparo. A violência, suplantando a mera noção de coerção física, infiltra-se em mecanismos de sujeição instituídos ou intersubjetivos e se sustenta em adesão resignada ou agressividade. Mas a ordem da violência que se corporifica na lei internalizada do Supereu e na culpa dos neuróticos (um dia cobiçamos, um dia mataríamos) expressa-se também na linguagem.
A vivência singular do desemparo[20] inaugura a ordem do desejo, da falta, sem possibilidade de satisfação. É também capturada pela dimensão coletiva da circulação da libido/pulsões. Não sabemos se o desamparo é a partida (Maria Rita Kehl) ou a chegada (Wladimir Safatle)[21].
Diário de Viagem
LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 112. “Em Freud: Estado em que o lactente que, dependendo inteiramente de outrem para a satisfação das suas necessidades (…) é impotente (…) para pôr fim à tensão interna. Para o adulto, o estado de desamparo é o protótipo da situação traumática geradora de angústia.”
Superada (se superada) a fase constitutiva dos fundamentos do Eu, o objeto primordial será remetido ao “não conhecido”. A busca constante (desejo) pelo reencontro impossível desse objeto nos impulsionará, sem garantir ou, por vezes, sem sequer resvalar a satisfação.
“Eis o que disse o dr. Krokowski:
“Sob a forma de doença. O sintoma da doença nada é senão a manifestação disfarçada da potência do amor; e toda doença é apenas amor transformado”[22].
Os integrantes do triângulo edípico se encontram todos numa teia simbólica similar, capturados por narrativas condicionadas e condicionantes, que tendem a ser incorporadas. A teia em que se vive e de que se vive pode ser sentida como uma armadilha, ceifando a própria subjetividade: “Eu tenho um problema: eu SOU isso…em que não me reconhecem …ou não me reconheço…”
A construção de sentido de si resgataria a ordem de ser único, singular, mas em vínculo a uma coletividade.
Talvez um modo de fazer face à violência e ao desamparo inexoráveis, evitando a melancolia. Ressignificar o mundo é interface do encontrar um sentido próprio. Sentido que possa ser ouvido e reconhecido.
É nesse espaço de ressignificação que o encontro analítico se apresentaria em toda a sua potencialidade: como vínculo de inclusão, não de sujeitos de direito, mas de subjetividades, cujo percurso precise ser ressentido (afetos, traumas) para encontrar sentido (representações, simbolizações).
SENTIDO
Vocábulo cheio de possibilidades: direção, significado, reverência, órgãos de percepção, o que se sente.
[1]Sanatório Internacional Berghof, localizado em Davos-Platz, é cenário da obra de Thomas Mann, “A Montanha Mágica”. Trata-se de local destinado à cura de pacientes tuberculosos, como o primo de Hans Castorp a quem esse vai visitar.
[2]MANN, T. A Montanha Mágica, Trad. Herbert Caro.
[3]LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 264. “Lembrança encobridora: lembrança infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela especial nitidez e aparente insignificância de seu conteúdo. A sua análise conduz a experiências infantis marcantes e fantasias inconscientes. Como o sintoma, é uma formação de compromisso entre elementos recalcados e a defesa”.
[4]Idem, p. 18.” O conflito edipiano, nas suas raízes pulsionais, é concebido como conflito de ambivalência (…) uma vez que uma das principais dimensões é a oposição de entre “… um amor fundamentado e um ódio não menos justificado, ambos dirigidos a mesma pessoa.”
[5]Ibidem, p. 199. “Formação de sintoma: … resultado de uma elaboração psíquica. … indícios de retorno do recalcado.” p. 463. Retorno do recalcado: “Processo pelo qual os elementos recalcados, nunca aniquilados pelo recalque, tendem a reaparecer e conseguem fazê-lo de maneira deformada sob a forma de compromisso”.
[6]Aqui usamos no sentido do que sente dor, aquele que sofre.
[7]MANN, T. A Montanha Mágica, Trad. Herbert Caro.
[8]LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p.27: “…como fenômeno automático e como sinal de alarme, a angústia deve ser considerada como um produto do estado de desamparo psíquico do lactante, que é evidentemente a contrapartida do seu desamparo biológico”. A angústia automática é uma resposta espontânea do organismo a essa situação traumática ou à sua reprodução. Por “situação traumática” deve-se entender um afluxo incontrolável de excitações variadas demais e intensas demais.”
[9]Idem, p. 9: “Segundo Freud, toda pulsão se exprime nos dois registros, do afeto e da representação. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações.”
[10]Ibidem, p. 36. “… qualquer ligação entre dois ou mais elementos psíquicos, cuja série constitui uma cadeia associativa. (…) conjunto do material verbalizado no decorrer da sessão psicanalítica.”
[11]MANN, T. A Montanha Mágica, Trad. Herbert Caro.
[13]Sinônimo de inconsciente em alemão.
[14]LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 514: “Designa em psicanálise o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica. (…)A transferência é classicamente reconhecida como o terreno em que se dá a problemática de um tratamento psicanalítico, pois são sua instalação, as suas modalidades, a sua interpretação e a sua resolução que caracterizam este.”
[15]MANN, T. A Montanha Mágica, p. 352. “Mas quanto a eu tê-la reconhecido e ter reconhecido meu amor por você…sim, é verdade, já conheci você antigamente, você e seus olhos maravilhosamente oblíquos e sua boca e sua voz, com a qual você fala… já uma vez, quando eu era colegial, pedi-lhe sua lapiseira, para enfim travar conhecimento social, porque eu a amava irracionalmente, e é daí, com certeza de meu antigo amor por você que me restam essas marcas que (dr) Behrens encontrou em meu corpo, e que indicam que também outrora eu estava doente…”
[16]LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 413. “(…) princípio do Nirvana como princípio econômico da redução das tensões a zero…estaria inteiramente a serviço das pulsões de morte.”
[17] Idem, p. 407. “No quadro da última teoria freudiana das pulsões, designa uma categoria fundamental de pulsões que se contrapõem às pulsões de vida (…) Voltadas inicialmente para o interior e tendendo à autodestruição (…) seriam secundariamente dirigidas ao exterior, manifestando-se sob a forma da pulsão de agressão ou destruição.”
[18]Normatividades de gênero, sexuais, estéticas, culturais, econômicas.
[19]GONDAR, J. “Ferenczi como pensador político”.
[20]LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 112. Em Freud: “Estado do lactente que, dependendo inteiramente de outrem para a satisfação das suas necessidades (…) é impotente (…) para pôr fim à tensão interna. Para o adulto, o estado de desamparo é o protótipo da situação traumática geradora de angústia.”
[21]KEHL, M.R. e SAFATLE, V. “Afeto, psicanálise e política”. Disponível em youtube, em Café Filosófico, 2018.