Para aqueles que olham para além de nossas fronteiras, em busca da terra prometida, os cenários também não são reconfortantes. Atentados, desastres naturais, longas filas de migrantes, guerra e destruição assolam a Europa, a África, o Oriente Médio, o Oriente e os EUA. O sonho de uma Europa unida sem guerras e sem barreiras está ameaçado com o efeito Brexit e o consolidar-se dos movimentos nacionalistas de direita.O excesso de realidade parece ser uma característica de 2016, nos desafiando para tentar ganhar alguma “perspectiva”, algum distanciamento que nos permita “imaginar” o futuro, em um contexto em que nossa capacidade imaginativa parece seriamente comprometida.
Um psicanalista brasileiro Joel Birman, alerta: o homem contemporâneo saiu do desamparo, marca registrada da modernidade, para cair em um estado de dor mortífero, que o condena a viver em um espaço congelado pela falta da perspectiva temporal e do desejo (cf. O sujeito na contemporaneidade). A fuga na realidade virtual proporcionada pelas diferentes geringonças eletrônicas não nos poupa de adentrar o “deserto do real”, a realidade sem perspectiva. O enorme aumento dos casos de depressão e o recurso indiscriminado à medicação com uso de psicotrópicos confirmam essa leitura.
Capturado por uma aceleração do tempo que dá a sensação que o tempo não somente encurtou, mas até desapareceu, o homem contemporâneo fica à mercê dos espaço vazio de um faz de conta ilusório.
Talvez o desafio para 2016 seja justamente esse: resgatar o tempo, para reintroduzir a capacidade de desejar e sonhar, aceitando o nosso desamparo essencial, que nos expõe ao sofrimento, que pode ser vivido na presença do outro, sem nos deixar cair no abismo da dor solitária.