Tenho um filho adolescente de 15 anos e estou preocupada com as amizades dele. Não confio muito nos seus colegas e já tentei falar com ele sobre isso, só que ele não me escuta. Quero saber o quê ele anda fazendo, mas não consigo dialogar. O que posso fazer? Clara, de Minas Gerais
Apesar do desenvolvimento físico e das atitudes que aparentam independência, o adolescente nessa faixa etária não está plenamente maduro para poder tomar conta de sua vida de forma autônoma. No entanto sabemos que, no Brasil, dependendo da situação sócio-econômica da família, podemos encontrar adolescentes que vivem situações diferentes. É o caso daqueles jovens que, já nessa idade, são obrigados a trabalhar para ajudar no sustento familiar e entram assim de forma prematura no mundo “adulto”.
De maneira geral, podemos dizer que a autonomia vai de mãos dadas com a responsabilidade. Se o jovem ainda não tem condições de cuidar de si e depende de alguma forma da família, não pode reivindicar a autonomia plena no que diz respeito ao seu comportamento. Vamos pensar, por exemplo, em um jovem que não dá conta de seus “deveres” tais como estudar, cuidar da arrumação do seu quarto, resolver as pendências ligadas à vida dele, cuidar das coisas que lhe pertencem, etc. Neste caso ele esta demonstrando não estar preparado para usar de sua autonomia. Os pais devem portanto deixar claro que a autonomia tem um preço, um correspondente: a responsabilidade. Quando o jovem usufrui de uma autonomia que ele não conquistou assumindo suas responsabilidades, se estabelece para o psiquismo uma equação falsa, que resulta no desenvolvimento de atitudes psiquicamente “perversas”. No fundo o adolescente que age dessa forma, demonstra não poder lidar de forma adequada com a realidade, que impõe limites. Ele acaba sendo vítima de seus núcleos psicóticos que distorcem a sua relação com a realidade. Uma característica desse período é a construção de novas amizades. O jovem acaba se “enturmando”. O fato de se sentir parte de uma turma de jovens da mesma idade, o faz sentir menos só diante da inevitável angústia que a transição da infância para a vida adulta desperta. Os amigos parecem ser os únicos que realmente o compreendem. Isto explica por que ele fique extremamente irritado quando os pais questionam suas amizades. Embora os pais muitas vezes tenham razão na forma como percebem os amigos do filho, não podem se substituir a ele para lhe dizer o que ele deve ou não sentir. O que pode ser feito é chamar delicadamente a atenção sobre esse ou aquele episódio, para ajuda-lo a “pensar”. Nesse sentido seria oportuno que os pais procurassem criar ocasiões para manter algum tipo de convívio com os amigos do filho. Um churrasco, uma viagem, uma festa, etc. ou assistir a um jogo, podem ser momentos importantes para perceber como é a turma que o filho freqüenta.Enfim, não existem receitas prontas, pai e mãe devem achar seu caminho, com delicadeza, mas não tendo medo de impor limites se for necessário. E muito comum, na terapia ouvir adultos que sofreram por causa dos pais não terem fixado limites… Sem limites o jovem pode manifestar comportamentos anti-sociais, mas também pode desenvolver um tipo de neurose mais sutil, que se manifesta como uma forma de angústia persistente, que se manifesta toda vez que algo “desejável” se apresenta. A sensação dessas pessoas é que uma ameaça está sempre no ar. É como se alguém repetisse: desejar é perigoso. Quando o desejo encontrou as barreiras impostas de forma adequada pelos pais, ele pode se expressar sem perigos, pode fluir sem angústia, pois ficou eternamente ressegurado pela existência de uma estrutura que o contém.