Tenho uma dúvida. Conheço pessoas que são muito fanáticas por cantores e artistas de TV. Chegam a deixar de viver a própria vida para ir atrás dos idolos. Gastam quase todo o salário comprando CDs, revistas, tudo relacionado ao artista. É uma doença? Qual o tratamento? Clara – Vale do Paraíba (SP)
Correndo atrás dos idolos
Basta passar na frente de uma banca de jornal para perceber o quanto a vida de artistas, astros do esporte, socialites e, de maneira geral, de toda pessoa exposta ao público represente um motivo de interesse. Não se justificaria o número crescente de revistas, livros, programas de TV, sites da Internet e artigos em jornais voltados para esse tipo de matérias se não houvesse um grande número de pessoas interessadas no assunto.
Mas afinal, o que torna tão atrativo vasculhar a vida dos “famosos”? O que os fãs procuram em seus ídolos? O que torna a vida dessas personalidades tão atrativa?
Em boa parte a mola que impulsiona o público a deixar de lado suas próprias vidas para viver aquelas dos seus ídolos é um movimento projetivo. O que fascina na vida do “famosos” é um certo glamour, o sabor de experiências que se apresentam como inalcançáveis para o comum mortal. O jeito é vivê-las de maneira substitutiva, acompanhando a vida dos famosos.
Poderíamos dizer que a vida dos ídolos produz uma espécie de encantamento para quem está espiando através da fechadura (por sinal esse já foi o logotipo de Big Brother Brasil). O encantamento é fruto do movimento projetivo do psiquismo que “carrega” o objeto “admirado” (o ídolo) de uma carga de energia psíquica e emocional muito intensa. Poderíamos dizer que o “objeto” da admiração é intensamente erotizado.
Aspectos reprimidos no inconsciente encontram uma vazão quando são projetados para fora e são depositados em alguém. As mais intensas fantasias podem ser vividas com aquele ator ou aquela atriz do corpo escultural. No entanto, como Brad Pitt dificilmente olharia para a balconista que mora na periferia, ele precisa de uma parceira que esteja à altura, a atriz do corpo escultural que ele namora no momento.
Nela a balconista da periferia projeta suas fantasias. Para ser um pouco parecida com ela será necessário usar o seu penteado, ou uma roupa parecida com a que ela usa, ou até arriscar um botox, ou uma lipoaspiração, mesmo que para isso seja necessário se endividar para o resto da vida.
A fuga da própria realidade, percebida como opressiva e demasiadamente limitada, somente é possível se a vida dos famosos estiver nem tão distante da realidade, a ponto de parecer impossível, e nem demasiadamente próxima, a ponto de parecer desinteressante. Isto explica também o drama dos famosos. Eles não podem ser demasiadamente próximos e reais, a ponto de parecer “comuns”, e nem demasiadamente “distantes” e irreais a ponto de ser esquecidos.
O famoso, por ser centro das atenções da mídia, lutará para poder não sucumbir ao próprio narcisismo, tornado-se assim irreal para ele mesmo. Por outro lado, os seus fãs lutarão para não se perderem na irrealidade dos seus ídolos idealizados.
A cura? Poder fazer de si mesmo o próprio “ídolo”, apesar de todas as limitações. Quando isso acontecer será possível saber ler entre as linhas das matérias de jornais e revistas, ou por trás das falas dos programas de TV, a realidade de vidas humanas que são exatamente iguais às nossas, embora venham embrulhadas em embalagens luxuosas.
Por outro lado, quando nos tornamos “ídolos” para nós mesmos, vamos poder perceber que nossa vida não é tão desinteressante e nem tão vazia como pareceria em um primeiro momento.
Um convite ao egoísmo? Certamente não. Poder amar a si mesmo (é isto que entendo por ser o ídolo de si mesmo) é a condição para poder amar o próximo!