Viver juntos ou casar?

Uma pesquisa, realizada nos EUA e divulgada pela mídia brasileira, teve como objetivo determinar se os casais que moram juntos antes de casar têm maiores chances de “acertar” no casamento. Tudo indicaria que fazer uma experiência de vida juntos, uma espécie de test-drive, permitiria verificar se o casal tem condições de “dar certo” em uma relação estável. Certo? Errado.

 O artigo publicado no jornal The New York Times, pela psicóloga Meg Jay, da Universidade de Virgínia (EUA), demonstra que casais que moram juntos antes do casamento, ou pelo menos antes de um noivado ou de um compromisso efetivo, tendem a ser menos satisfeitos com a união e mais propícios ao divórcio.

Dados de uma pesquisa realizada nos EUA, em 2001, demonstram que a coabitação, para a maioria das mulheres, é considerada como um passo para o casamento, enquanto, para a maioria dos homens, é vista como uma maneira de testar o relacionamento ou adiar o compromisso.

Trata-se de uma assimetria que, com o tempo, leva o casal a se deparar com conflitos que levam a um menor nível de comprometimento, mesmo após a relação progredir para o casamento. De acordo com as pesquisas, escolher um parceiro apenas para morar junto não é mesma coisa de escolher um cônjuge.

Mas por que as pesquisas contradizem a crença de que o casamento tem maiores chances se for submetido a um test-drive?  Quais os processos psíquicos envolvidos na escolha do cônjuge ou de um simples parceiro?

Uma primeira questão que entra em jogo na hora de escolher entre casar ou viver juntos é a capacidade de se vincular. Neste sentido, ao escolher viver junto para um test-drive, os casais deixam em aberto a possibilidade de voltar a levar a vida de antes, sem perceber que com o convívio eles acabam compartilhando família, amigos, moradia, hábitos, o que torna mais difícil o processo de separação, que nunca será um voltar ao que era antes.

Nem todos têm a mesma capacidade de estabelecer e manter um vínculo. A “possibilidade” de se vincular depende em grande parte das experiências primitivas de vínculo com o ambiente (mediadas pela mãe) e com as experiências subsequentes da infância envolvendo a relação com ambos os pais e dos pais entre si. Tais experiências podem determinar formas de se relacionar marcadas por “defesas” ou “ataques” ao vínculo. O casamento, com sua promessa de união “até que a morte nos separe”, representa um sério desafio para a capacidade de se vincular. Neste sentido, o test-drive pode ser uma atuação defensiva para encobertar aspectos falhados da psique que prejudicam a capacidade de se vincular. Vale a pena notar que embora as pesquisas pareçam indicar que as mulheres “esperam” poder se vincular de forma mais estável, a clínica mostra que muitas vezes essa expectativa é acompanhada pela escolha inconsciente de parceiros que são exatamente o oposto, ou seja que não vão se comprometer em um vínculo estável.

Outro aspecto envolvido é o valor que tem para a psique a “formalização”. O casamento como ato social, vivido na presença de um grupo representativo, formaliza uma união, conferindo um senso de realidade a algo que inicialmente é vivido apenas no plano psíquico. A ritualização do compromisso tem uma função psíquica que, com a desmistificação do casamento formal, tem sido desconsiderada ou minimizada.

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