Uma visita inesperada

Quando a morte de um ente querido vem de surpresa é possível uma família se conformar?

A morte inesperada de um ente querido é sempre um trauma, cuja superação exige tempo, uma predisposição psíquica adequada e um ambiente favorável.

Quando pensamos em alguém que amamos ou a quem estamos ligados por um vínculo cotidiano (um conhecido ou um colega de trabalho, por ex.), a nossa mente traz imagens (memórias) ligadas a essa pessoa, criando uma linha do tempo onde passado, presente e futuro se entrelaçam. Naturalmente a quantidade dessas imagens e sua intensidade aumentam quando pensamos em alguém querido. Neste caso os sentimentos associados às imagens são muito mais intensos.

A morte, sobretudo quando é inesperada, desce como uma fria lâmina que interrompe o fluxo dessas memórias, criando assim uma sensação de esvaziamento e de perda. A pessoa amada some improvisamente, sendo que todos os seus vestígios reais ou imaginários ainda estão ali, a tornar sua ausência no presente e no futuro mais dolorosa e absurda.

Somente o tempo pode ajudar a assimilação da nova realidade, frustrante e dolorosa, dando início ao processo do luto. Quanto mais forte for o apego às imagens do passado, mais difícil e lento será o processo. Paradoxalmente esse apego é uma forma de manter “viva” a imagem de quem morreu, justamente por medo que morra em nós sua presença. O desapego das memórias supõe de certa forma a possibilidade de reestabelecer uma continuidade na presença de quem morreu. Isto pode ocorrer por efeito da fé na continuidade da vida no além, ou simplesmente pela percepção que o ente querido continua vivo em nós.

O processo do luto pode ficar mais lento e doloroso se existe na pessoa uma tendência à depressão e à melancolia. Neste caso o apego ao “objeto” ausente, torna-se patológico, impedindo a retomada normal da vida.

Mencionei a importância do ambiente externo, pois ele também pode ajudar a tornar mais rápido o processo do luto, caso se mostre amigável e favorável, oferecendo suporte, sem porém ser indulgente com os processos melancólicos.

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