Tristeza pós-parto

Quando nasceu o meu bebê tive sentimentos que não estavam nos planos; pensei até que eu estava vivendo uma depressão pós-parto. Depois lendo as revistas que eu tinha em casa, cheguei à conclusão de que eu estava passando pela tristeza materna. Ao comentar o fato com minhas amigas percebi que elas viveram algo semelhante. Como se explica essa tristeza?

Como comprovam as pesquisas, um número muito alto de mulheres chega a experimentar algum tipo de tristeza após o parto. Os índices identificam esse estado em quase 80% das mães que acabaram de dar á luz um bebê.

A própria pergunta da nossa leitora mostra tratar-se de algo inesperado. Viver esse estado de tristeza não estava nos planos da futura mãe e tampouco parecia haver sintomas de que isso fosse acontecer.

Por que motivo uma mãe que estava ansiosamente esperando pelo nascimento do seu bebê, experimenta tristeza quando ele nasce? Vale a pena notar que a “tristeza” nada tem a ver com o estado do bebê, que, na maioria dos casos, nasce saudável, pronto para “atacar” o seio da mãe com a primeira mamada.

Estamos portanto falando de um processo interno da mãe que nada tem a ver com o bebê e tampouco com o fato dele ter sido indesejado. Por que motivo a mãe deveria estar triste?

Para a psicanálise, sem excluir a possibilidade de mudanças hormonais que podem explicar o fenômeno desde o ponto de vista fisiológico, trata-se de um estado emocional que foge à consciência da futura mãe. Sentimentos não identificados contribuem para que se instale esse leve estado depressivo.

O nascimento do bebê é algo extremamente sofisticado do ponto de vista psíquico. A mãe que esteve vinculada ao feto durante nove meses, de repente se vê livre dele. Algo que era interno passa a ser externo. Algo que, de certa forma, era ela passa a existir como separado dela.

O corpo do bebê é intimamente conectado ao corpo da mãe e, ao mesmo tempo, não é mais o corpo da mãe. Com o nascimento, é como se a mãe perdesse o controle sobre o corpo do bebê, embora sua subsistência passe a depender completamente dela.

 Não é difícil perceber que tudo isso não é simples para a mãe e é bastante compreensível que uma certa angústia se estabeleça diante desse ser que já foi ela e que, a partir do nascimento, não é mais ela e que passa a solicitar a atenção total dela.

O bebê, por ser absolutamente narcísico, é tirânico em suas necessidades. Ele não espera, não “dá um tempo”; parece incapaz de compreender as necessidades da mãe. Tudo isso faz com que ela se sinta “pressionada”, à mercê dos desejos onipotentes do bebê, desse novo ser que ela precisa “decifrar”.

Claro que tem também outro aspecto. O bebê sorri, se aconchega no colo da mãe, adora a sua presença. Enfim é uma coisinha fofa e indefesa. Motivo a mais para a mãe sentir angústia e culpa ao perceber inconscientemente que seus sentimentos pelo bebê são ambíguos e talvez até hostis em algum momento.

Além disso, a mãe percebe que esse ser que está no seu colo vai mudar completamente a sua vida. Nunca mais vai poder desfrutar de sua autonomia como desfrutava antes. Uma série de mudanças se impõem na sua vida e as mudanças sempre angustiam.

É claro que cada caso é um caso, mas os aspectos acima descritos permitem entender um pouco melhor as angústias que a nova mãe vive e compreender o porquê de sua eventual “tristeza” após o parto, ao tomar consciência que o bebê entrou definitivamente em sua vida.

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