Tenho vários amigos, mas, mesmo assim, meu coração vive com Saudade melancolica de algo que não sei explicar o que é.
Usando uma metáfora, poderíamos definir a melancolia como uma nuvem que impede que o sol brilhe em nossa alma. O nosso leitor descreve com propriedade de que se trata. Não faltam amigos ao melancólico, mas eles não conseguem aplacar a sensação de falta que reina soberana em seu mundo interno.
Grandes poetas, músicos, romancistas, pintores se tornaram famosos justamente por representar em sua arte esse sentimento sorrateiro. Trata-se de uma saudade que remete a uma falta que o sujeito não sabe bem o que é. Não é especificamente a falta de algo ou de alguém, trata-se de um sentimento mais profundo: uma falta abismal, que toma conta da alma.
Geralmente, o antídoto psíquico da melancolia é a voracidade: um desejo irrefreável de preencher a sensação de falta com algo prazeroso ou excitante que possa aliviar, por um momento, a sensação de estar mergulhando em um buraco negro, do qual não se sabe se será possível voltar.
Um dos desdobramentos da melancolia pode vir a ser a vontade irrefreável de comer (seguida por problemas de obesidade), de beber, de tomar estimulantes e drogas, de viver experiências sexuais que transmitam ao corpo uma sensação momentânea de estar vivo. O próprio recurso a remédios (hipocondria) pode ter essa função, na esperança que algo possa magicamente aplacar a dor. Trata-se na realidade de paliativos que trazem um alívio fugaz, pois nada pode aplacar a terrível sensação de falta que domina o psiquismo do melancólico.
O contexto social no qual vivemos proporciona a quem sofre desse mal uma série infinita de possibilidades para diminuir fugazmente sua voracidade. Basta sair às compras. Um celular, uma roupa, um sapato, uma bolsa podem, por um breve instante, transmitir a sensação de estar vivo, de se sentir incluído, fazendo parte de algo. Aliás, a voracidade é hoje legitimada pelas leis do consumo e pelos apelos da publicidade. Consumir confere status.
As redes sociais também podem suprir à necessidade de aplacar a melancólica. Descobrir que temos duzentos amigos no Facebook ou no Twitter pode aliviar a sensação de falta. Logo porém o melancólico percebe que tais amigos não interagem como ele idealizou, pois não “curtem” o que ele posta, não “comentam” suas fotos, seu “status”. Volta então a sensação de falta, misturada a outra sensação não menos feroz que atormenta o psiquismo do melancólico, a inveja. Sim, porque, aquela colega que não tem nada de especial, já tem trezentos amigos e todas as bobagens que ela posta são comentadas e curtidas pelo cortejo de amigos dela. Na fantasia do melancólico as experiências reais não são apropriadas, logo volta a se instalar a saudade de algo que ele não sabe o que é e tudo volta ao ponto inicial: a falta.
Do ponto de vista médico, o problema é a confusão que é possível fazer entre esse tipo de sintomas e a depressão. O melancólico não e um depressivo de carteirinha. Ele sempre expõe o seu lado “eufórico”, ou, como prefere a psicanálise, “maníaco”. O problema é que hoje sermos maníacos é considerado normal, pois todos o são um pouco. Daí que muitas vezes o sintoma é considerado nada mais do que uma expressão “normal” dos nossos tempos e pode passar despercebido.{jcomments on}