Quanto maior foi o investimento nesse “amor”, maior é a dificuldade de admitir que ele acabou de forma tão inesperada. Mesmo assim, alguns casais, superando a decepção e tentando olhar para frente, conseguem se separar sem a necessidade de se agredir mutuamente, simplesmente aceitando o que parece ser inevitável.
O amor conjugal é um sentimento complexo que envolve diferentes níveis de “ligação” com o outro, níveis que tendem a ser visitados com maior ou menor intensidade, nas diferentes fases da vida e do desenvolvimento emocional de cada um.
O amor erótico (Eros) cede lugar ao amor que envolve menos a estrutura desejante e mais os núcleos profundos da psique (self), gerando empatia, cumplicidade, admiração, afinidades. Tudo isso é o que chamei de Philia em outros artigos, me inspirando no professor Clóvis de Barros. Finalmente chega a fase em que prevalece o acolhimento do outro (Ágape), percebido como pessoa inteira, com seus aspectos bons e falhados.
Contudo, nem sempre o psiquismo de cada um dos parceiros tem condições de acompanhar esse desenvolvimento. Em alguns casos, a psique acaba se fixando na necessidade de reviver aspectos mais instintivos do processo, regredindo para reviver experiências que não foram suficientemente exploradas do ponto de vida psíquico. Isto pode acontecer em qualquer idade, inclusive em idade mais avançada.
Os motivos que conduzem à necessidade de regredir à fase inicial da ligação erótica e do apaixonamento variam de pessoa para pessoa. De forma geral podemos apontar algumas deles: sentimentos depressivos ligados à percepção de que o corpo dá seus primeiros sinais de desgaste, a introdução da ideia de morte no panorama das fantasias conscientes e inconscientes, uma relação que se torna desgastante pela rotina sem sentido e por condenar os parceiros a um sentimento de impotência diante das expectativas do outro que não “podem” ser atendidas são apenas alguns dos exemplos possíveis.