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Quando escolher é difícil

Quando escolher é difícil: O que fazer quando se tem várias aptidões profissionais. Tenho habilidades como ator, administrador, jornalista e professor: isso me trava e não sei por qual caminho seguir. (Anônimo)

Quando escolher é difícil

 A nossa mente trava quando fica diante de um conflito interno. Os caminhos que se abrem na encruzilhada da escolha de início podem ser igualmente atrativos, apesar de nos levarem para destinos diferentes, anunciando cenários conflitantes. Cada paisagem que se abre ao longo do caminho tem características peculiares. Não há um caminho melhor ou pior, tudo depende das expectativas do viajante.

Se eu quero passar uns dias caminhando, mergulhado na natureza, curtindo o silêncio, o cheiro do mato e o canto dos pássaros, posso escolher o caminho que me leva para a praia, mas dificilmente ali encontrarei o que eu realmente procuro; a montanha seria mais indicada.

A opção “praia” é ótima, mas não é o que eu estou procurando dentro de mim. No entanto, a escolha pode se complicar quando outras “vozes” começam a interferir. Um parente recomenda o caminho da praia por ser mais seguro; os amigos acham mais legal a praia pois proporciona mais opções para a noite. A clareza inicial que mostrava a montanha como o “melhor” destino perde a sua força e se confunde com o brilho de outras opções.

O que eu realmente quero: praia ou montanha? Nenhuma opção é perfeita. Todas têm seus pontos positivos e negativos. No entanto, ao escolher algo, tenho que aceitar que estou desistindo de outra coisa. Toda escolha gera algum tipo de frustração e de “morte”. O filósofo francês Sartre dizia que somos condenados a ser livres e que em cada escolha percebemos que o ser é um ser para a morte.

O problema é querer achar a praia na montanha e a montanha na praia, para satisfazer nossa voracidade. Se isso acontecer, a tendência é não curtir nada, nem a praia, nem a montanha. Acabamos sendo engolidos por nossa própria voracidade. O passeio se transforma em uma maratona cansativa, onde as situações se atropelam e se sobrepõem, fazendo com que nada seja na realidade curtido.

O que fazer então? A primeira grande dificuldade para o sujeito e aprender a “escutar” a si mesmo. Discernir o que é dele e o que não lhe pertence. O que vem dele e o que é imposto pelo ambiente, pelos outros.

A segunda dificuldade consiste em perceber que nada pode satisfazer de forma total e definitiva o nosso desejo. A expectativa do gozo é ilusória como diz a psicanálise. Ela apenas remete à falta, pois o objeto total, definitivo e irrestrito, não existe. Todo caminho e todo destino envolve algum tipo de “falta”, algum tipo de frustração do nosso desejo.

A única escolha certa é aquela que realmente fazemos a partir de nós mesmos, do nosso eu profundo. A escolha certa é aquela feita sem se deixar capturar pelas interferências do mundo externo e tampouco pelas interferências daquelas instâncias do mundo interno que desviam da nossa subjetividade.

Isto não quer dizer que a escolha certa não deva se deixar pautar pelas exigências do princípio de realidade. A realidade sempre está à espreita, obrigando a remodelar nossos sonhos e nossas expectativas. Neste sentido não existe o “objeto” total, o sonho perfeito.

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