Eis aqui um livro diferente: um psicanalista que , com linguagem acessível responde a perguntas simples, nascidas de interrogações de pessoas comuns, que querem apenas uma orientação para viverem o dia-a-dia de suas vidas no mundo de hoje.
Não é um livro teórico, técnico, mas nascido longe da academia “para ser lido por todos e para trazer luz sobre a mente humana, mesmo aos que não podem ter acesso ao longo e caro processo analítico e ao complexo mundo das teorias psicanalíticas, como diz o autor na sua introdução. Estamos portanto livres da formalidade requerida pelo rigor do trabalho analítico.
Encontramo-nos com as mais diferentes questões, nascidas do desejo de compreender o “mundo” psíquico-emocional, questões temperadas de curiosidade e interesse de pessoas de diferentes idades, que reconhecem precisarem de dicas para resolver suas duvidas e que se colocam na posição de perguntar ao terapeuta.
.É exatamente esta simplicidade que cativa, o esforço do autor para ser claro e acessível, tendo sempre em vista os princípios teóricos da psicanálise, seu empenho em tornar compreensíveis questões nem sempre fáceis, sua dedicação em transmitir o conhecimento com transparência. Refiro-me, no entanto, a uma simplicidade que nada tem de simplismo ou redução de raciocínio, falo de uma clareza que não abre mão da profundidade necessária à reflexão, nem se contenta com o obvio.
Ao longo das suas respostas, meu amigo Roberto Girola se revela gente, pessoa humana, cheio de atenção e cuidado pelo humano, buscando estar próximo de cada um que pergunta, seja ele um adolescente , uma mãe ansiosa , um jovem adulto, uma pessoa que quer saber melhor o que significa psicose para compreender seu amigo doente.
O respeito que Roberto tem pelas pessoas que o procuram aparece espontaneamente no que ele escreve, como algo que se desvela sem nenhum artifício ou esforço, porque esta delicadeza é parte essencial do seu modo de ser e da sua visão de mundo. Há um empenho genuíno em colocar-se no lugar do interlocutor para compreender melhor as circunstâncias que o cercam, para buscar ouvir, ver, sentir, perceber o mundo, a partir do seu ponto de vista e ajudá-lo efetivamente.
Não será esta disposição de espírito do terapeuta a primeira condição na direção da cura? Não seria a experiência do encontro com alguém vivo que também vive a busca de significado, que poderá fazer ressoar no paciente seu próprio poder-ser, abrindo-lhe um maior espaço de liberdade de viver?
Um bom autor, um terapeuta efetivo nunca poderá ser um observador dissociado do mundo, impessoal, sem identidade e historia, sem suas impressões digitais únicas e cicatrizes singulares. Roberto jamais é frio e distante, mas comprometido, imbricado na vida.
Considero que a identidade desse italiano do Piemonte aparece ao longo do livro e lhe dá um olhar mais amplo e mais sensível para considerar questões culturais de cada região do Brasil , para aproximar-se das necessidades internas de compreensão e pertença próprias de todos nós , para “penetrar o mundo da psicose e se dar conta de que esta doença condena as pessoas a uma solidão infinita”>,para avaliar “o raro prazer de estar com alguém podendo ser nós mesmos”.
Este livro é sim, de fácil leitura, mas extremamente instigante, faz pensar, provoca. Suas paginas podem ser lidas ao nosso bel prazer, sem ordem pré-estabelecida, em qualquer tempo ou lugar: numa pausa do trabalho, no metrô, na sala de espera de uma consulta medica, abertas ao acaso ou escolhendo-se os assuntos . Podem motivar reflexões , ser tema de uma mesa redonda, roteiro de grupos de estudo.
A partir de sua leitura , podemos refletir sobre o que já está escrito dentro da gente, pela própria vida e pensar em como continuar e escrever melhor o texto de nossa existência; Eu imagino assim e torço para que seja assim!
Gosto desse Perguntas a um psicanalista porque é simples. As grandes sacadas são simples, óbvias, de repente tudo faz sentido, eureka!
Parabéns, Roberto, pelo livro e pela coragem de se expor além das paredes do consultório. Meu caro irmão, você não precisa pedir desculpas pela “demasiada simplicidade” do seu texto. Nós precisamos de textos simples como este para tornar o mundo psíquico menos difícil e hermético.
Dou as boas-vindas a Perguntas a um psicanalista e desejo que muitos leitores encontrem o que encontrei nessas paginas.
Ana Paula Saraiva