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Comportamento

O fetiche

Por quais motivos pessoas confiam e utilizam amuletos, escapulários e afins a ponto de não saírem de casa sem eles? Quais aspectos estão em torno de tal comportamento?

O fenômeno da idolatria era uma prática comum entre os povos antigos. No ídolo o poder divino é capturado por uma representação material. Trata-se de imagens, com formas humanas ou que reproduzem objetos da natureza, às quais se atribui um poder transcendente: o mesmo poder que muitos atribuem a amuletos, pequenos rituais e imagens religiosas. O culto ao ídolo, que se desdobra nos mais diferentes rituais,  é uma forma de se apropriar do poder divino e de se sentir “mais poderosos” (onipotentes) diante das incertezas da vida.

O desejo de onipotência está intrinsicamente ligado à psique humana. O bebê se desenvolve a partir desse desejo que o ajuda a estruturar o seu Eu e faz com que ele estabeleça uma relação de uso onipotente do mundo externo, percebido em um primeiro momento como um prolongamento do seu mundo interno.

Naturalmente, superado o período inicial de desenvolvimento, o bebê aprende que o mundo externo existe e que não está sempre à sua disposição, começando assim a lidar com a frustração e os limites a ele impostos pela realidade (horários,, ausências da mãe, perda do peito materno, etc.).

Permanece contudo, como um pano de fundo no psiquismo, uma “necessidade” de controle onipotente da realidade. O ser humano desenvolve essa “necessidade” inconsciente de forma e com intensidade diferentes. Nos casos mais graves temos uma verdadeira neurose que leva a buscar rituais e práticas que transmitam a sensação de segurança e de poder.

O recurso a amuletos, escapulários, imagens religiosas ou rituais mágicos está inteiramente a serviço desse tipo de neurose, visando assegurar uma espécie de controle onipotente sobre a realidade, mediado pelo “poder sobrenatural” conferido ao objeto em questão. Trata-se de um verdadeiro fetiche, pois tais objetos aos quais se atribui um poder sobrenatural ou mágico e aos quais se presta culto estão literalmente no lugar de (este é o sentido da pa,vra fetiche) alguma instância sobrenatural de caráter benigno ou maligno.

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