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O clima emocional da empresa

O clima emocional da empresa

(c) Roberto Girola

Se pusrmos peixes sadios em um aquario contaminado em pouco tempo os encontraremos mortos. Podemos observar inúmeras empresas empenhadas em caríssimos processos de reestruturação envolvendo Consultorias Externas, Auditorias, Refurmulação de Sistemas, Gerência de Processos, implementação de Knowledge Management, Data Mining, GED, SAP, etc. No entanto, esses caros “peixes” podem acabar boiando na água em pouco tempo se o ambiente empresarial for contaminado por situações que caracterizam uma doença estrutural.

Um rápido paralelo com o funcionamento da psique humana poderá nos ajudar a entender situações bastante comuns nas empresas e avaliar sua importância. No indivíduo, encontramos duas patologias psíquicas fundamentais: a neurose e  a psicose. À base da neurose poderíamos colocar, grosso modo, uma impossibilidade de ter acesso ao próprio mundo interno. Uma espécie de corte entre o mundo interno inconsciente e o plano da consciência operacional. O não acesso ao mundo interno, causa um esvaziamento do núcleo central que preside às funções do eu (self), com graves prejuízos para a possibilidade de criar  e de ter acesso às próprias energias vitais (libido). O indivíduo sente que não está vivo, em vez de viver em contato com o próprio desejo, passa a viver se adaptando ao ambiente, experimentando um esvaziamento contínuo.

O que caracteriza os núcleos psicóticos, em termos individuais, é a dificuldade, ou a impossibilidade de acolher a realidade. O que prevalece, nesse caso, é o aprisionamento no mundo interno, onde os  objetos subjetivos passam a ser percebidos como reais. Existe na psique uma dificuldade de articular o mundo interno do sujeito e as exigências da realidade externa compartilhada. Neste caso, o individuo fica à mercê do mundo interno, sem que o eu possa cumprir sua função de mediar o contato com o mundo externo.

Uma pesquisa publicada em 2001 nos EUA pode nos ajudar a entender como esses mecanismos, que caracterizam o psiquismo individual, repercutem no ambiente empresarial. O objetivo da pesquisa era detectar o tempo que os altos executivos dedicam à tomada de decisão. Ao verificar os altos gastos feitos pela empresa para dar um suporte “objetivo” (isto é um dado proveniente da realidade) à tomada de decisões, constatou-se que, paradoxalmente, o tempo dedicado à tomada de decisões era de poucos minutos. Tudo isso não é devido apenas à grande dificuldade em lidar com uma massa de informações cada vez maior, mas também a uma tendência psicológica. Podemos dizer que, nesse caso, foi detectado o prevalecer dos processos inconscientes: a percepção subjetiva do executivo (mundo interno) é priorizada, pela incapacidade de suportar a barragem e a frustração que a realidade compartilhada impõe ao mundo externo.

O ambiente empresarial parece ser muitas vezes dominado por esse tipo de funcionamento psíquico, que acaba sendo um instrumento poderoso a serviço dos processos inconscientes das pessoas envolvidas. Por causa do estresse e do clima humano aversivo, o ambiente pode favorecer um clima emocional neurótico ou até o prevalecer de núcleos psicóticos. No primeiro caso o ambiente fica sufocado por rotinas obsessivas e vazias, ou por reações psicossomáticas intensas, que atingem a saúde dos funcionários, obrigando-os muitas vezes a “sobreviver” graças à ajuda de uma medicação crônica. No segundo caso, o mercado, o cliente, o fornecedor, o colega, o chefe ou o subordinado são “pensamentos que não podem ser pensados” como elementos de uma realidade compartilhada, o que prevalece são as fantasias de cada um, com uma dissociação e uma fragmentação intensas do clima institucional.  A carga emocional ligada a esses núcleos “impensáveis” é extremamente grande, pois envolve lembranças emocionais, traços do nosso psiquismo extremamente dolorosos e intensos.

Este processo pode ser ainda mais doentio em instituições de grande porte, onde muitas vezes os processos decisórios são bastante impessoais e distanciados da realidade local. O conjunto de fantasias internas converge para formar uma “realidade” subjetivamente concebida da empresa. É portanto importante que um processo de reestruturação possa detectar esses processos que marcam o psiquismo institucional e trabalha-los adequadamente.{jcomments on} 

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