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Comportamento

A preocupação com o futuro

Vivo preocupado em planejar o futuro e acabo não vivendo o presente. O que faço?

As viagens no tempo são uma fantasia que ocupa a mente humana desde sempre. Alguns gostariam de retroceder para o passado, como o protagonista do filme Uma noite em Paris, outros, como o nosso leitor, gostariam de entrar em uma máquina do tempo para uma mágica Viagem no futuro. Para quem se vê aprisionado nessa síndrome, o grande desafio é viver o presente.

Uma primeira constatação nos levaria a pensar que a fuga para o passado ou para o futuro supõe uma frustração com o presente. Neste caso, o que tornaria o presente tão difícil de ser sustentado e habitado? Embora a insatisfação exista, nem sempre reflete algo real. Frequentemente, a terapia ajuda a constatar que, na realidade, a vida não é tão ruim assim. Obviamente existem frustrações, mas quando são mapeadas e vivenciadas no processo terapêutico, fica claro que não correspondem à forma como são vivenciadas emocionalmente pela mente.

A fuga do presente pode ser o resultado de dois funcionamentos psíquicos que podem na realidade coexistir na mente. O primeiro poderia ser descrito como uma não autorização a se apropriar dos aspectos positivos e prazerosos da existência.

Pode parecer paradoxal, mas, infelizmente, os processos inconscientes da nossa mente frequentemente não trabalham a nosso favor. Nem sempre o prazer é autorizado pelo inconsciente.

A possibilidade de se apropriar de si mesmo e daquilo que está sendo vivido não é sempre garantida. As razões disso podem ser difíceis de ser identificadas sem a ajuda da terapia, pois remontam a funcionamentos inconscientes bastante complexos envolvendo às vezes sentimentos inconscientes de culpa.

A fuga do presente pode também ser o efeito de um processo inconsciente que leva a idealizar o futuro (situações, pessoas, experiências, etc.), ou o passado. O que caracteriza esse processo é que leva a investir emocionalmente objetos que, por serem idealizados, nunca poderão ser encontrados, pois a característica do objeto ideal é que ele não existe. É justamente a não existência do objeto ideal que “persegue” a mente, trazendo frustração e angústia.

O tempo é uma construção da mente, Passado, presente e futuro se ligam formando a linha do tempo sobre a qual construímos nossas memórias, significamos nossas experiências e sonhamos nosso futuro. A linha do tempo confere ao nosso Eu uma sensação de continuidade.

Por alguma razão, contudo a linha do tempo pode não se constituir na nossa mente. Neste caso o presente fica vazio, sem sentido, pois não pode adquirir um significado à luz do nosso passado e nem pode nos impulsionar para o futuro. Trata-se de uma sensação que confere ao nosso viver uma característica mecânica, rotineira: fazendo do nosso presente uma mera repetição de atos sem sentido. É como se o Eu, que subjaz à linha do tempo se retirasse, impedindo a sensação de continuidade na existência.

O processo de “sonhar” o futuro se diferencia do processo de idealizar o futuro. No primeiro caso, o nosso Eu, assistido pelas memórias do passado e pela apropriação do presente, nos lança em direção aos sonhos do futuro, que, enraizados na linha do tempo, deixam de ser meros devaneios. Sonhar é saudável, ruminar um futuro idealizado não leva a nada.

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