A inveja

Mesmo sem querer tenho inveja das pessoas que alcançam sucesso na vida, mas queria não sentir isso.

A maioria dos caminhos  de aprimoramento espiritual condena a inveja e a considera um empecilho para o crescimento pessoal. Do ponto de vista psicológico, a inveja não deixa de ser um sentimento negativo e, dependendo de sua intensidade, pode se tornar um sintoma patológico.

Melanie Klein, uma importante discípula de Freud pioneira no estudo e no tratamento de bebês, considera a inveja uma manifestação primitiva do psiquismo ligada à agressividade. A partir das etapas sucessivas do desenvolvimento, se tudo correr bem, a inveja e a agressividade são substituídas pela capacidade de reparação e pela capacidade de se preocupar pelo outro.

Mas, afinal, por que sentimos inveja? O estudo do desenvolvimento primitivo da psique humana mostra que, nas fases iniciais do desenvolvimento, o sujeito precisa estabelecer uma dependência total do outro (mãe). Se essa fase primitiva do desenvolvimento é vivida adequadamente, o psiquismo se prepara para a fase sucessiva, que é o reconhecimento do outro, como alguém separado de si.  Esta percepção, associada inexoravelmente à perda do controle onipotente sobre o outro que ele experimentou na fase da dependência absoluta (primeiros seis meses), faz com que a relação com o outro seja marcada por sentimentos ambivalentes de ódio e de amor.

O ódio pode ser substituído pelo amor somente quando o sujeito experimentou o amor incondicional da mãe, que lhe deu a segurança de sua existência e da consistência de seu eu. A certeza de ser amado faz com que o ser humano não precise “atacar” o outro e os objetos que o representam. Infelizmente, quando isso não aconteceu de forma adequada, a sensação é que nada pode ser apropriado pelo sujeito, nada lhe pertence de direito. O sujeito invejoso é dominado por uma sensação de falta arrasadora, diante da qual tudo o que o mundo ao seu redor oferece passa a ser atacado como inadequado e insuficiente.

Dominado pelo desejo de posse de objetos idealizados, o sujeito invejoso percebe os objetos que se encontram ao seu alcance como insuficientes e inadequados. Adequado e desejado é o objeto que o outro possui ou tem ao seu alcance. A estrutura invejosa leva a uma dolorosa e constante comparação com o outro. Tudo o que ele tem é melhor, mais fácil, mais glamoroso, mais bonito. À mercê desse sentimento o invejoso jamais é feliz. Nada do que ele se apropria o satisfaz. Tudo o que ele tem parece menor. Quando alguém tenta lhe mostrar o que ele conquistou, a resposta invariavelmente é: “Sim, porém….

É inútil dizer que essa é uma das estruturas psíquicas mais dolorosas e incômodas, como mostra a própria pergunta do nosso leitor que se vê à mercê de um funcionamento psíquico que não consegue dominar. O invejoso costuma ser uma pessoa difícil para o convívio social e com os seus entes queridos. Sua presença geralmente é marcada pela agressividade e pelo peso do seu olhar crítico. O ódio inconsciente é tão aguçado que esse tipo de personalidade precisa atacar constantemente o outro. Trata-se de ataques inconscientes que visam destruir o que o outro possui. A lógica parece ser: “Já que não o tenho, vou atacar e destruir o que você tem”.

Por se tratar de uma estrutura inconsciente difícil de ser elaborada, geralmente a terapia é o único caminho saudável para sua superação.

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