Que relação podemos estabelecer entre as mudanças que caracterizam o atual cenário mundial e os fenômenos que envolvem uso de drogas, de estimulantes, de álcool, de medicamentos psiquiátricos e de outros meios de fuga da realidade em busca de um prazer desenfreado?
Já em 1947 T. W. Adorno e M. Horkheimer, dois filósofos da Escola de Frankfurt, publicam uma obra cujo título, A Indústria cultural, sinaliza a passagem da era industrial para a era da cultura de massa. Durante os anos em que moraram nos EUA, Adorno e Horkheimer assistem à difusão de uma poderosa e influente indústria cultural (rádio, TVs, revistas, jornais, editoras, etc.) cujo objetivo era ajudar a reproduzir “o modelo do gigantesco mecanismo econômico”, o estilo de vida americano, baseado em lugares comuns e banalidades que inspiravam e pressionavam a sociedade como um todo.
A queda do muro de Berlim em 1989 e o fim da Guerra Fria apontam simbolicamente para a vitória do sistema Capitalista sobre o Socialismo Marxista: com isso o Mercado se torna aos poucos o deus absoluto ao qual todos devem adorar. Os alemães do Leste Europeu não pularam o muro em busca apenas da liberdade. Eles buscavam o estilo de vida capitalista, a liberdade de consumir. Creio que a mesma busca esteja à base dos recentes movimentos libertários do mundo islâmico que no fundo está também à procura do grande sonho ocidental.
A consolidação da cultura de massa não tem suas origens nos EUA, mas já na Alemanha nazista e nos demais regimes ditatoriais fascistas ou socialistas, sustentados por poderosos recursos propagandísticos, que, mais tarde, passam a ser usados pela indústria cultural não mais para difundir um regime político e sim a ideologia capitalista.
Baseados em slogans e lugares comuns, os Meios de Comunicação difundem o que se espera de quem é bem-sucedido e intelectualmente preparado para o Mercado. Uma contradição, já foi percebida por Adorno, caracteriza a indústria cultural. Embora ela supostamente valorize a individualidade, na realidade promove a massificação. O indivíduo se sente diluído no grupo e só pode ser aceito como tal se for “adequado” aos padrões estabelecidos pelo grupo. Trata-se de padrões de comportamento e de consumo ditados pelas necessidades do Mercado e pelos interesses das grandes corporações, que acabam favorecendo algumas minorias em detrimento das grandes massas.
Na realidade, porém, as massas não se sentem excluídas. Poder se juntar ao cortejo dos bem-sucedidos é a grande aspiração do homem contemporâneo, não importa seu nível social e sua nacionalidade. Naturalmente isto tem um preço: pois exige uma incondicional submissão à voracidade dos padrões de consumo (um jacaré faminto) e, por outro lado, as leis de mercado ceifam suas vítimas entre os mais desavisados (desemprego, endividamento, submissão a rotinas de trabalho cada vez mais escravizantes, etc.).
Convocado a gozar sem fim, o homem contemporâneo fica sempre a um palmo do gozo prometido (ilusório). O esforço para se manter no páreo é enorme, mas os resultados são pífios. Tudo isso, convenhamos, é altamente depressivo, pois nos condena a nos sentirmos impotentes e inadequados o tempo todo. Como fugir desse incômodo sentimento? A droga, o álcool, os energizantes e outros expedientes de fuga da realidade acabam se tornado os melhores aliados.