Dificuldade para namorar

Estou com um problema. Sou solteira e tenho 34 anos e nunca namorei. Sinto um pouco de medo de ter uma companhia e também um pouco de dificuldade em todos os sentidos: abraçar, beijar… Será que isso é normal? Estou triste pois todos os meus familiares e amigos me cobram por eu não ter um namorado. Preciso de uma ajuda.

Embora pareça a coisa mais natural do mundo, nem sempre é fácil namorar. Para algumas pessoas, dentre elas a nossa leitora, a dificuldade começa no momento de procurar alguém, ou de se abrir para que alguém se aproxime.

Para outros, a dificuldade surge quando o vínculo tende a se estreitar e começa a despontar a ameaça do “compromisso”, seja ele representado por uma oficialização do namoro ou pelo casamento.

Para um terceiro grupo, a dificuldade se apresenta na hora de “manter” o vínculo, que acaba a se mostrando sufocante, aprisionador e decepcionante. A pessoa escolhida não parece de fato ser “adequada” às necessidades de quem a escolheu. O comentário mais comum é: “Gosto dele(a), mas não é o homem/mulher da minha vida”.

Embora as situações sejam diferentes, por trás delas existe algo em comum: o psiquismo se sente ameaçado ao tentar estabelecer um vínculo. O que pode variar nos exemplos citados é a intensidade da angústia que os vínculos desencadeiam e a reação que cada um tem a partir dessa angústia.

No primeiro caso, a dificuldade é tão grande que sequer existe a autorização interna para procurar um vínculo afetivo mais intenso com alguém. Nos outros casos, a inibição não é tão severa, mas acaba se revelando na medida em que os vínculos se estreitam. Geralmente a experiência clínica mostra que, em todos esses casos, a história de vida da pessoa remete a vínculos parentais que não foram sentidos como adequados pelo inconsciente.

O fato dos vínculos serem percebidos como ameaçadores pelo inconsciente, não quer dizer que o sejam para a consciência. A pessoa de fato “quer” estabelecer vínculos, mas não consegue. Aliás, é justamente a falta de comunicação entre as percepções do inconsciente e a consciência que gera dor, sofrimento, surpresa, dificuldade de compreender por que as coisas não acontecem da maneira certa. “Por que os outros conseguem namorar e eu não?”, é a pergunta que atormenta essas pessoas.

Naturalmente, o fracasso ou a dificuldade de namorar gera uma baixa auto-estima. A pessoa começa a se sentir inadequada, feia, chata, pouco atraente aos olhos dos outros. O problema é atribuído à falta de interesse dos outros, e não à dificuldade pessoal de se vincular.

As defesas contra o vínculo, movimentadas por essa estrutura inconsciente e pela sua rede de memórias que remetem a vínculos tidos como ruins ou insuficientemente adequados, podem ser as mais variadas. Pode acontecer, por exemplo, que os que se interessam sejam percebidos como pouco interessantes, “bobos”, inadequados, ou então que a pessoa ache que eles estão se enganando e não leve a sério suas investidas amorosas.

Pode haver também uma tendência a se apaixonar de pessoas distantes (geograficamente ou socialmente falando) ou não disponíveis (homens casados ou religiosos, por exemplo), pois elas não apresentam uma ameaça real.

A defesa pode se manifestar com uma incapacidade de manifestar afeto, como no caso da nossa leitora, ou, ao contrário, na busca fugaz de relações superficiais e inconseqüentes. Pode levar a pessoa a ficar sem tomar iniciativa alguma, ou pode despertar uma sutil raiva pelo outro, que leva a buscar constantes brigas ou a explodir em manifestações de ciúme.

Enfim, os ataques ao vínculo podem ser os mais variados e ardilosos. O mais curioso é que, na maioria dos casos, eles acontecem sem que a pessoa se dê conta que está de fato sabotando o vínculo por medo ou por não suporta-lo. Mais uma vez, trata-se de estruturas inconscientes que requerem o apoio de um terapeuta, pois dificilmente a pessoa, por si só, conseguirá desmascara-las e aprender a lidar com elas.{jcomments on}

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