Meu marido e eu estamos casados há 14 anos e ultimamente estamos passando por um período difícil. Tentamos dialogar, mas nossas conversas sempre acabam em briga. O que devemos fazer? Maria Francisca Juiz de Fora (MG)
Todos os livros de auto-ajuda apontam o diálogo como um importante meio para evitar crises no casamento. No entanto, não há nada mais difícil que dialogar. O motivo é simples.
Quando marido e mulher tentam dialogar pensam que são duas pessoas envolvidas na conversa, mas na verdade os envolvidos são 4. Como assim quatro? Sim quatro, porque além da parte consciente há também os respectivos inconscientes que, na maioria das vezes, falam mais alto do que a parte consciente e racional de cada um.
Isto fica muito evidente quando, ao tentar colocar sua maneira de ver determinada situação, o marido ou a mulher se depara com uma reação inesperada do parceiro ou da parceira, que parece não poder “pensar” sobre o assunto de maneira sensata e racional.
A parte emocional se sobrepõe ao diálogo consciente e cada um ouve o que o inconsciente “quer” ouvir, desencadeando-se assim uma série dei incontroláveis reações emocionais, que geram constantes mal-entendidos.
O psicanalista inglês D. Winnicott costumava dizer que as coisas são “objetivamente percebidas, mas subjetivamente concebidas”. Isto quer dizer que o casal está olhando para a mesma situação, mas cada um “concebe” o que está olhando de sua maneira, totalmente influenciado pelo seu mundo interno, ou seja, pelos fatores emocionais inconscientes.
Isto explica por que as situações que envolvem a vida do casal costumam ser interpretadas de maneira tão diferente pelos dois. Serão necessários uma boa dose de paciência e de capacidade de acolher o outro para poder entender o que cada um está falando.
O esforço de adentrar o mundo emocional do parceiro é fundamental para que haja algum tipo de entendimento. Não é necessário ser psicanalista ou psicólogo para fazer isso. Anos de convivência permitem ao casal se conhecer profundamente, desde que cada um preste atenção às reações do outro sem querer logo julgá-las, classificá-las e enquadrá-las em um esquema racional pré-concebido.
O pior que não é apenas difícil conhecer o mundo emocional do outro. Na maioria das vezes desconhecemos também nosso próprio mundo interno. Nossas reações são tidas como “normais”, mas raramente elas passam pelo crivo do mero racional.
A verdade é que costumamos ser bastante complacentes com a nossa irracionalidade e pouco receptivos com a irracionalidade do outro. Na medida em que aprendemos a nos conhecer, aprendemos também a conhecer mais profundamente o outro. Mas conhecer não é ainda o suficiente, é necessário também poder acolher nossas incongruências, para poder acolher o outro e sua maneira “estranha” de ser.{jcomments on}]