Desemprego causa depressão

Meu marido tem 52 anos e está desempregado há mais de um ano. Durante alguns meses, ele tentou arrumar um novo emprego, mas não conseguiu. Há pouco mais de dois meses, ele mal tem vontade de sair de casa. O problema é que ele não se convence que está em depressão e precisando de ajuda. Como devo agir? Marta, de Rio Claro (SP)

A perda do emprego é um evento traumático na vida de uma pessoa, que gera sentimentos de frustração, de rejeição e de postergação e de luto, que resultam em perda da auto-estima, ou até de uma confusão quanto à própria autoimagem, resultando quase sempre em um estado de paralisia interna.

A perda efetiva do emprego ou a ameaça de perdê-lo costumam gerar uma acentuação de determinados sofrimentos psíquicos, que, em outras circunstâncias, ficariam ocultos ou menos perceptíveis. As consequências podem ser muito preocupantes, com o aparecimento de quadros depressivos agudos.

Embora tenha falado em “acentuação” de sofrimentos psíquicos já existentes, é possível que a perda efetiva ou do emprego ou o medo de perde-lo gerem uma situação interna de caráter traumático mesmo em quem aparentemente estava bem antes de perder o emprego.

O desemprego se apresenta como uma realidade terrível. O problema não é apenas de caráter financeiro. O que está em jogo para o psiquismo é o próprio sentido da existência, sobretudo para o homem, cujo papel social é ligado à função de prover o sustento da família. Por estar “encostado” e se sentir posto de lado, o desempregado sente que perdeu o seu lugar no mundo e a sua potência (o falo).

A capacidade de se expressar parece estar em cheque, pois a sociedade de consumo liga o valor do ser humano à sua capacidade de produção e de consumo. O desempregado, aos olhos da sociedade, não produz e pouco pode consumir e consequentemente é posto à margem.

Esta situação se torna ainda mais perversa se as pessoas mais próximas passam a ver o desempregado como um “encosto”  e o tratam, mais ou menos conscientemente, com desprezo. Naturalmente, tudo isso favorece que o próprio desempregado passe a se perceber dessa forma, vivendo uma sensação constante de esvaziamento e de desprezo por si mesmo..

´À sensação de vazio está ligada a tendência interna à baixa auto-estima. Esta situação emocional favorece um intenso estado depressivo e o consequente bloqueio da capacidade criativa. O desempregado passa a se sentir totalmente paralisado diante da situação.

Embora essa situação esteja em parte ligada a uma situação externa, que é sentida pelo marido da nossa leitora como sendo sua, é importante que ele possa ser ajudado a perceber que a perda do emprego não equivale à perda do seu valor como ser humano, como pai e marido.

Feita essa premissa, acho importante frisar um aspecto que, talvez, não tenha sido percebido. Se depois de um ano “nada” aconteceu, provavelmente é necessário rever os caminhos escolhidos para buscar uma nova colocação no mercado de trabalho.

Às vezes o desempregado se prende teimosamente ao seu antigo emprego e continua moldando sua busca de novas possibilidades à sua situação profissional anterior. No entanto, o mercado de trabalho mudou. O que antes era oferecido sob forma de emprego, talvez hoje deva ser buscado como possibilidade de trabalho.

A negociação de faixas salariais e de cargos não exige apenas flexibilidade (ou seja a disposição a ganhar menos do que antes e a ocupar um cargo menos importante), mas também exige criatividade.

Isto significa que a busca de um emprego supõe prestar atenção não apenas às próprias necessidades, mas, antes de tudo, às necessidades que o mercado de trabalho acena. Parece banal, mas não adianta oferecer algo a alguém que está procurando outra coisa.

No caso em questão, contudo, é possível que já esteja se perfilando um quadro patológico de bloqueio que dificilmente poderá ser superado sem ajuda profissional. Devido à situação, talvez a ajuda possa ser buscada junto a instituições que oferecem suporte terapêutico gratuito ou de baixo custo. Geralmente este tipo de atendimento é oferecido por faculdades de psicologia ou centros de formação de psicanalistas (cf. por exemplo a rede de atendimento do CEP).

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