Casamento: esperava mais

Tenho um casamento há cerca de seis anos, quatro de namoro e dois de casados. Meu mundo caiu quando ele me traiu e eu vi tudo da pior maneira possível. O tempo passou, voltamos, mas ainda lembro e relembro, me sinto feia, mau mesmo  (…).  São tantas brigas, xingamentos. Gosto muito dele e sei que ele gosta de mim. Mas esperava mais. O que faço?

Dois aspectos desse comentário deixado no meu site me chamam a atenção e merecem ser ressaltados, pois apontam para um sofrimento psíquico bastante comum nessas situações.

Contrariamente ao que a maioria pensa, embora a traição possa ser o fator que dispara uma crise conjugal, nem sempre é o fator definitivo para tornar a situação irreparável. No caso em questão, a traição parece ser apenas um gatilho que desperta sentimentos negativos que certamente não estão relacionados à traição em si, mas à percepção de si, que antecede a própria traição (“me sinto feia, mau mesmo”).

 O fato de se sentir preterida(o) na relação amorosa, frequentemente traz á tona uma profunda insegurança sobre si mesmo, uma sensação de esvaziamento que joga o psiquismo no abismo da não existência. A(O) “escolhida(o)” se apresenta como um ser idealizado, que pulveriza a autoimagem de quem foi traído. Este aniquilamento psíquico é o aspecto mais doloroso e, sem dúvida, é o que muitas vezes impede que a relação possa ser mantida, mesmo quando há a consciência de que a traição não representou uma desistência da relação, mas apenas um ato de fraqueza e imaturidade. A percepção de que o outro ainda “gosta de mim” não parece ser suficiente para sarar a ferida narcísica aberta pela traição.

.O segundo elemento é claramente identificável na frase “esperava mais”. Certamente o outro sempre se apresenta como insuficiente diante da expectativa do nosso desejo. Aliás, o que mantém o desejo em ação é exatamente essa expectativa sempre frustrada pela incapacidade do outro saciar essa voracidade que o alimenta.

Nunca o outro estará completamente à altura das expectativas do nosso desejo. Pensar que exista o príncipe encantado o a mulher dos sonhos é útil quando estamos em busca de um(a) parceiro(a), mas é destrutivo quando o encontramos. O que limita o nosso desejo se abre caminho em qualquer relação e a sua aceitação é a chave para que o vínculo amoroso amadureça e se torne motivo de crescimento.

Usamos cookies para lhe proporcionar uma melhor experiência.
Wordpress Social Share Plugin powered by Ultimatelysocial