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Bela, recatada e do lar…

Bela, recatada e do lar…
A expressão envolvendo a esposa do vice-presidente Temer, já empenhado em tomar as rédeas do país na eventual aprovação do impeachment por parte do Senado, tornou-se rapidamente um fenômeno viral nas redes socais.

Haveria uma intenção inconsciente da jornalista que a cunhou de contrapor a presidente Dilma, menos bela, e nada do lar à imagem mais feminina da suposta nova primeira dama? Certamente na sociedade do espetáculo na qual vivemos, uma mulher bonita daria mais Ibope. Aqui vai portanto uma primeira recomendação da desavisada jornalista aos futuros candidatos: por favor, troquem as esposas por moças jovens, bonitas, modelos ou misses. De nada adiantariam as plásticas, como comprovou a esposa do anterior presidente. Pena que a jornalista esqueceu que a melhor primeira dama que o Brasil já teve foi a esposa do presidente Fernando Henrique Cardoso, que não era do lar e nem necessariamente bela, embora fosse recatada.

Feitas essas considerações, resta entender por que as mulheres reagiram com tanta força e virulência à idealização de mulher que a desavisada jornalista desenhou. Seria este um modelo de adequação para as mulheres?

Naturalmente temos o repúdio das que não se acham tão belas, mas que são lutadoras e ocupam seu lugar no mundo de maneira digna, em uma sociedade que, às vezes, tende a excluí-las justamente por não serem tão belas. Também reagiram as que se acham belas, mas que se sentem ofendidas por ser notadas e apreciadas apenas por seus dotes físicos.

Quanto ao fato da mulher ser “recatada”, não fica claro o que isso significa. Seria apenas não sair mostrando a calcinha ou os peitos, ou é uma alusão a determinadas virtudes morais e, neste caso, quais seriam? Não fica claro. Confusas as mulheres reagiram. Será porque não se sentem tão recatadas assim, já que a sociedade pede que elas sejam sensuais, sedutoras e bonitas, mas não lhes abre caminho caso sejam apenas recatadas?

Finalmente temos um exército de mulheres que não são “do lar”, ou seja, as que tem mais de um expediente de trabalho… Sim porque supostamente ser do lar não quer dizer ser uma dondoca que delegou os afazeres de casa para a empregada ou para a babá (embora provavelmente seja esse o caso da nossa nova musa). Ser do lar quer dizer trabalhar em casa, cozinhar, cuidar dos filhos, resolver problemas domésticos, etc. Mas acontece que as que não são “do lar” também são “do lar”, quando voltam para casa, muitas vezes sem poder contar nem com a empregada, nem com a faxineira e nem com o marido. De acordo com nossa jornalista, estas não seriam mulheres dignas de “representar” o Brasil

Tudo isso não surpreende se um “representante” do poder legislativo se dá o direito em plena Assembleia parlamentar de fazer uma homenagem à tortura e à ditadura, ambas consideradas “ilegais” em nosso país e isso em nome de uma suposta reintegração da “legalidade” no supremo cargo da República.

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