Amizade: um bem precioso

Por que é importante mantermos a amizade? – Carla, do Paraná

Durante a terapia, uma paciente bastante jovem falava freqüentemente de suas “amigas”, a maioria das vezes para se queixar delas. Certo dia, perguntei se tinha certeza que fossem realmente suas amigas. Depois de relutar um pouco, acabou admitindo que na realidade não se tratava de amigas e sim apenas de “colegas”.

A amizade é um bem precioso e, como tudo o que é valioso, é rara. Geralmente os “amigos” se contam nos dedos de uma mão. A amizade é importante porque nos proporciona o raro prazer de poder estar com alguém sendo nós mesmos, sem máscaras, sem “proteções”, sem fazer “joguinhos” de caráter emocional.

Mas como distinguir uma amizade falsa da verdadeira? Os processos de identificação inconsciente se encarregam de aproximar às pessoas, criando laços emocionais profundos, embora nem sempre saudáveis. É como se os inconscientes dialogassem entre si, antes mesmo das pessoas se conhecerem.O inconsciente nos move em direção dessa ou daquela pessoa, de acordo com suas “necessidades”. Naturalmente, nem sempre isso ocorre de maneira saudável. Às vezes o que aproxima duas pessoas são as respectivas neuroses. Uma personalidade com tendência à submissão, por exemplo, poderá sentir forte atração por um amigo dominador sádico. Quem tende a “não existir” acabará caindo nas mãos de “amigos” invasivos e controladores e vice-versa.

Podemos dizer que a marca registrada da amizade saudável é a espontaneidade. O amigo é aquele que gosta de nós, como nós somos, sem que seja necessário pôr uma máscara para fingir mais interessantes, mais inteligentes ou mais perfeitos.

Com o amigo não é necessário “explicar” as coisas. Ele nos conhece e, sem muitos rodeios, sabe do que estamos falando e o que estamos sentindo. Ele adora compartilhar nossos sonhos, nossas conquistas, nossos momentos difíceis. Chora conosco, ri conosco, vibra conosco e também sabe tirar um sarro de nossos defeitos sem deixar-nos para baixo.

Mas cuidado! A amizade verdadeira nunca é interesseira. O verdadeiro amigo está conosco unicamente pelo prazer de estar conosco. Quando a amizade se mistura ao interesse, geralmente acaba, pois, na realidade, nunca existiu.

Nunca o verdadeiro amigo subordina a amizade a um pedido de favores. Quem age dessa forma, pode até conseguir o favor que está pedindo, mas acabará perdendo o amigo que se sentirá usado. A amizade, como vimos, supõe a gratuidade e a espontaneidade. Aliás, a possibilidade de dizer não a alguém confirma que ele realmente é um amigo.

Não há como “fazer” amigos. A amizade simplesmente “acontece”, geralmente de forma inesperada. Ela pode estar à nossa espreita, onde menos imaginamos. Às vezes até em alguém que de início consideramos ser um chato. A amizade sempre nos surpreende.

Apesar de alguns duvidarem, também acredito seja possível existir amizade entre homens e mulheres, sem que ela se torne um “caso” ou um romance. Novamente, o que caracterizará esse tipo de amizade é a possibilidade de estar com o outro sem querer usá-lo.

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