Quem já participou de festas elegantes da alta sociedade sabe que frequentemente o clima se torna insuportável por causa do excesso de consumo de álcool, que torna os participantes chatos, inconvenientes e o clima da festa deprimente. Naturalmente este não é um problema que se restringe às classes mais abastadas. Uma festa “na laje” pode ter as mesmas características. O alcoolismo é um problema “democrático” que atinge todas as camadas sociais. Independentemente do nível social dos participantes, quem não bebe acaba se sentindo deslocado e até “chato”.
Entre os jovens não é diferente. Começar a consumir álcool é uma espécie de rito de iniciação que “introduz” no grupo dos “legais”, dos “pegadores”. Quem não bebe se sente excluído, careta e inadequado.
Embora o alcoolismo sempre tenha existido, hoje estamos assistindo à transformação desse fenômeno patológico em um ritual de inserção social. Trata-se de mais um dos sinais de que os imperativos superegóico atuais deixaram de ocupar o lugar da censura, da inibição do desejo, para se transformar em instigadores do “gozo”.
Trata-se de um ritual compulsivo, de caráter maníaco, em que o “gozo” não é obtido pelo acesso ao prazer oral da bebida e sim pela adesão a um ritual que agrega uma sensação de plenitude e de pertencimento a um eu enfraquecido e melancólico. O convidado não se sente parte da “festa” enquanto não bebe, assim como o jovem não se sente parte da “balada” enquanto não ”nche a cara”, para logo, em estado alterado, se permitir abordagens de caráter sexual, que envolvem “beijar muitos”, “pegar” ou até descolar uma “transa” rápida.
O “prazer” não consiste em conquistar uma menina ou seduzir um menino e sim no “pegar” compulsivo, sob os efeitos alucinatórios do álcool. O prazer do gozo não remete à possibilidade de disfrutar de um objeto (a festa, a conquista de um parceiro sexual, a presença dos amigos, etc.), mas tem uma componente narcísica, pois investe o próprio ego enfraquecido. No entanto, apesar disso, a sensação de prazer escorrega entre os dedos para remeter novamente à sensação de falta.